segunda-feira, dezembro 10, 2007

A BURSCHENSCHAFT!

Venho arquivando há alguns anos, artigos e trechos de livros sobre a vida de Julio Frank. São poucos. Não cabe aqui detalhar sua misteriosa vida, mas lembrar que - fugido da Alemanha - passando pelo Rio e Sorocaba, fundou como professor em 1831, na Escola de Direito do Largo de São Francisco em SP, uma sociedade fechada entre estudantes, a Burschenschaft nos moldes da sociedade que participava na universidade germânica em que estudava e que foi conhecida entre os estudantes daqui, de forma simplificada, como Bucha.
Frank era um ídolo dos estudantes da Faculdade de Direito. Quando faleceu foi enterrado por eles no pátio ao lado das famosas Arcadas da Escola de Direito. Esta sociedade teve tal força que dela participaram, em vários graus, oito Presidentes da República: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Venceslau Braz, Artur Bernardes e Washington Luis. Getulio Vargas, depois que tomou o poder com a revolução de 30, afirmava que o Brasil era inadministrável com a existência da Bucha, que era o poder de fato. Por isso mesmo tentou remover o túmulo/escultura de Julio Frank e não conseguiu.
Este Blog pede para que, quem tiver algum material a respeito, ou souber onde pesquisar, informe para que os poucos arquivos a respeito possam ser ampliados.

Acima a foto do túmulo/monumento de Julio Frank em fotografia tirada em setembro de 2007, em uma visita a Faculdade de Direito em SP, com o propósito citado.

domingo, dezembro 09, 2007

Efeitos do uso prolongado da maconha ...

EM DEFESA DO AUTOR!

Trechos do artigo/carta - NO BAILE DO MINISTRO DA BANDA LARGA AUTOR NÃO ENTRA- do compositor Fernando Brant (foto), ao ministro Gilberto Gil

1. Quem está por trás desse massacre aos autores, dessa campanha mundial, economicamente forte e organizada? Certamente, os grupos que dominam a internet: a Microsoft, o Google, as telefônicas, que poderiam usar obras artísticas sem pagar. Por que o Gilberto Gil não propõe uma “Technology Commons”, para que todos tenham acesso gratuito ao que os chamados provedores de conteúdo nos oferecem mediante pagamento?

2. Qualquer que seja o assunto, o ministro descobre um jeito de atacar os autores. Ele tem idéia fixa contra nós. Piratearam um filme? É hora de mudar a lei autoral. Ele acha normal que se faça cópias ilegais (é a modernidade, a tecnologia, a compulsão da juventude). Será que ele julga correto que se viole contas bancárias, se calunie pela internet ou se propague a pedofilia? Se tantos praticam um crime, a solução seria mudar a lei para que tudo (matar, roubar) seja permitido?

3. Gil repete como ladainha essa concepção de mundo. Autor profissional não cai nessa, mas alguns autores jovens se convertem a essa religião suicida. Universitários e professores desavisados passam a defender tal anarquia. Quem defende a barbárie não é moderno nem revolucionário. Quem está a favor dos direitos não é conservador: é civilizado. Autores, artistas e músicos brasileiros: protejam-se do ministro bárbaro, exterminador de criadores. Lembrem-se da lição de Cacilda Becker: “não me peçam de graça a única coisa que tenho para vender”.

PODER POLÍTICO E PODER JUDICIÁRIO: NUANCES!

"el poder", pelo pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera

Qualquer manual de ciência política - e mais ainda seus autores centrais - informam que quando o poder político se fragiliza, se dilui, parte de seus espaços é ocupado pelo poder judiciário. Esse, com isso, assume progressiva e crescentemente funções políticas, sob os aplausos da opinião pública e estímulo dos meios de comunicação, estes naturalmente focados na audiência.
Os analistas falam em três vertentes desta relação entre poder político e judiciário.
Numa primeira, com o poder político fortalecido e legitimado, o poder judiciário assume características técnicas como poder extraído de concurso público, onde basicamente aplica as leis com rigor formal.
Numa segunda vertente, com o poder político numa situação intermediária, com algum desgaste, o poder judiciário de propõe a fazer justiça e decide com flexibilidade em base aos princípios gerais de justiça social e cidadania. É o que muitos chamam de direito alternativo e que avançou muito no Brasil nos últimos anos.
Na terceira vertente, com o poder político muito fragilizado, de certa forma como ocorre hoje no Brasil, onde a opinião pública multiplicada pelos meios de comunicação (como audiência), deslegitima o poder político, forma-se um aparato parajudicial, onde a opinião pública impressiona em diversos graus o poder judiciário, cujas decisões relativas ao poder político e a questões de grande visibilidade social e econômica, são impactadas por esta mesma opinião pública.
A parajudicialidade é a combinação entre um poder judiciário que ocupa o vácuo político, uma opinião pública mobilizada e meios de comunicação estimuladores e multiplicadores deste processo.
As três vertentes - a formal, a alternativa e a parajudicial - costumam ocorrer simultaneamente em diversas proporções, ampliando-se o espaço de cada qual em proporção a menor ou maior deslegitimação do poder político. O esperado é que o poder judiciário oscile entre suas vertentes formal e alternativa.
Mas fatos de grande repercussão de opinião pública que deslegitimam o poder político empurram o poder judiciário em direção a terceira vertente. A decisão do senado sobre seu presidente pode ter sido um destes fatos, com conseqüências muito mais amplas e graves do que imaginava a maioria dos senadores. Com esse cenário o poder político deve avaliar seus desafios, agora. Aguardam-se os desdobramentos!

ETANOL: TRECHOS DO EDITORIAL DO New York Times!

1. O etanol americano baseado em milho é caro. Em vez de importar etanol barato do Brasil, feito de cana, os EUA impõem uma tarifa de 54 centavos por galão sobre o etanol do Brasil. E então concedem um subsídio fiscal de 51 centavos por galão aos produtores americanos - generosos subsídios que os produtores já recebiam de programas agrícolas.

2. As distorções na produção agrícola são alarmantes. Os preços do milho subiram cerca de 50% em relação ao ano passado, enquanto os preços da soja têm projeção de aumento de 30% no próximo ano, pois os agricultores substituíram a soja por milho em seus campos. O crescente custo da ração animal está fazendo subir os preços dos laticínios e produtos avícolas.

3. Entretanto, os benefícios ambientais são modestos. Um estudo publicado no ano passado por cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley estimou que, depois de contabilizar a energia usada para cultivar o milho e transformá-lo em etanol, o etanol de milho reduz as emissões de gases do efeito estufa em apenas 13%.

CHICAGO! ENCONTRO DE PREFEITOS SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA! NOTAS!

1. Prefeito de Chicago: -Terroristas aqui, são as gangs. Industria de armamentos é a mais protegida dos EUA.

2. Prefeito de Miami: - Violência nas ruas já é obsessão.

3. Tom Diaz: analista senior do Violence Policy Center. Crime organizado tem estrutura flexível quanto a recursos, decisões, não precisa de chefe, nem hierarquia. As policias são organizações burocráticas. / Gang MS 13 começou em Los Angeles com salvadorenhos e hoje é transnacional e serve de modelo a outras. / EUA repatria delinqüentes das gangs que reorganizam tudo em seus paises. / Estão em 42 Estados nos EUA e tem 10 mil membros. / M 18, é outra, mas de crimes menos violento e tem 40 mil membros nos EUA.

4. Ainda Tom Diaz: Industria dos EUA torna as armas ainda mais letais. / MAGNUM 500: é arma de mão com potencia de fuzil, que vara os coletes da policia. Novo Rifle para franco atirador penetra aço com nova munição penetrante. Em breve estarão nas mãos de gangs e narcotraficantes. / EUA tenta desburocratizar através de grupos integrados de várias policias. / Governo dos EUA se fixa no terror. Tem instrumentos, mas não atua sobre gangs. / Armas não têm os controles e registros que carros tem.

5. Arif Alikhan: Vice-prefeito, responsável pelo Departamento de Segurança Publica de Los Angeles. / Los Angeles é berço das atividades de gangs nos EUA. / Gangs são responsáveis por 56% dos homicídios. / Gangs tem vínculos culturais e também familiares. / 12 delitos típicos das gangs: homicídio, extorsão...Crimes diminuem em geral, mas aumentam os praticados por gangs. / MS 13 foi criado em 1980, tem 19 cliques e 900 membros aí. / Controlam suas ações de dentro das cadeias.

6. Cortez Trotter: chefe do Corpo de Bombeiros. / Escritório de prevenção a desastres naturais se transformou em organização de informação e prevenção a desastres, delitos, acidentes, etc...com amplos e sofisticados sistemas, mostrados aos prefeitos. Chicago tem 500 câmeras conectadas e operadas desde a base central. / E sistema móvel deslocável com as mesmas informações.

7. Prefeito de Windsor-Canadá, fronteira com EUA (Detroit). 20 milhões de caminhões atravessam fronteira ali, por ano. 25% do comércio EUA/Canadá. 40% de todos os caminhões entre os dois paises. / Controle se faz, em operações conjuntas de todos os níveis de governo e dos dois paises.

8. Prefeito de Tijuana-México. 2,2 milhões de habitantes e cresce a 5% por 7 a 8 mil deportados por mês desde os EUA que terminam ficando por lá. / 25 milhões de veículos por ano, cruzam a fronteira ali./ Via de drogas além de produtos. / Criou Museu do Crime Organizado para conscientizar/chocar jovens. / GPS nos veículos de policia. / No último ano prenderam 13 mil delinqüentes.

Observação: Polícia Rodoviária Nacional deveria visitar Windsor e Tijuana e conhecer os sistemas de controle de caminhões, nas fronteiras.

A maior "reforma" do Governo Lula !

Orgulhe-se, você pagou cada centavo desta transformação !

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Da série: lá...como... aqui...! AS COLETORAS!

Modalidade desenvolvida por Kirchner para os - digamos - acordos eleitorais! Inventiva - digamos - braso-argentina! Hoje este Blog publica resumo do artigo (A política do Pior) a respeito, do politólogo argentino Natálio Botana, publicado em La Nacion, incluindo o uso de uma crise potencial como chantagem. Logo publicaremos o resumo do artigo do analista do Clarin, Julio Blank sobre as mesmas COLETORAS ! No Brasil a prática das COLETORAS, ocorre também, a nível parlamentar.

1. A visão desse quadro,aqui, torna-se obscura, porque as competências eleitorais podem se apresentar no quadro de opções relativamente claras, ou então obedecer à uma extrema fragmentação. Trata-se, portanto, de uma geografia de arquipélago, algo também semelhante – se insistimos com metáforas capazes talvez para descrever a confusão cidadã – num labirinto no qual somente os dirigentes políticos e seus respectivos seguidores conseguem se orientar.

2. Vale a pena recordar aquela maravilhosa criação da comédia, porque rapidamente a linguagem popular e mediática batizou essas membranas eleitorais, que a partir de diversas listas se prolongam e se multiplicam a partir de candidaturas principais, chamadas "ganchos' e "COLETORAS" e na ausência de qualquer vislumbre de disciplina partidária, trata-se então de somar votos por um lado e por outro estimular os diferentes candidatos menores.

3. O panorama está muito distante, portanto, de saturar numa medida razoável a crise de representação política inaugurada já há uns compridos cinco anos. Muito diferente das ordens que pregam as mudanças, brigam pela qualidade das instituições ou defendem a regeneração moral da vida política, esse estilo calcado na astúcia, corre o risco de perpetuar um declive com relação ao que ocorria de maneira rápida há uns vinte anos.

4. A democracia supõe uma acumulação virtuosa de aprendizagens. Nós estamos empenhados a fazer o caminho inverso: a acumulação viciosa do sub-partidarismo extremo nos partidos. Quando a divisão impera dessa maneira, as respostas podem terminar consolidando uma situação hegemônica, ou o que é tanto ou mais grave, num futuro próximo, podem contemplar outras hipóteses de alternância sujeitas à ação perversa da crise. A crise enquanto método espúrio de sucessão política, contribuiu três vezes – no final do governo de Alfonsín, no de Duhalde e igualmente no governo De La Rúa,- a derrubar governos, antecipando a entrega do poder ou provocando a renúncia do presidente.

5. Trata-se da versão argentina da " política do pior", isto é, aquela política que, sem atender o uso responsável do poder, aposta na violência ou, numa circunstância talvez mais benigna, na iminência e na inevitabilidade da crise. Esse é outro exemplo de nossa tendência à catástrofe e a interpretação patética de dificuldades que sem dúvida existem e pioram com o passar do tempo, (como exemplo, basta destacar a falta de comedimento eleitoral do Governo na questão dos gastos públicos).

6. Tal embate, deveria consistir na realização de debates nos meios de comunicação, graças ao contraponto aberto e racional de projetos dos candidatos. Nos países avançados esse é o estilo habitual visando dirimir controvérsias da democracia. Mas, entre nós, ao contrário, torna-se um fato excepcional e quase impossível.

7. A campanha se converte, dessa maneira, num diálogo de surdos. Na verdade, sempre quem está na dianteira não deseja nem escutar nem debater. Essa questão é importante porque se quiséssemos afugentar o plano inclinado da falta de comedimento e da ameaça da crise deveríamos abandonar a prática de confrontação pelo método mais construtivo da deliberação e do consenso. Está claro, que como diz o ditado, entre falar e fazer há uma grande distância.

O DIAGRAMA É O MESMO, SEMPRE! VALERIODUTO É APRIMORAMENTO! PROIBIR A SOLUÇÃO!

1. Vou descrever o esquema das agências de publicidade e dos governos, do qual saiu a tentativa de aperfeiçoamento conhecida como valerioduto.

2. Funciona assim: A agência de publicidade que trabalhou para um partido numa eleição, ou que vai trabalhar para o partido que está no governo na próxima eleição, ou programas/comerciais partidários é contratada por este governo. Faz seu trabalho profissional, mas - num acordo de gaveta - amplia sem necessidade técnica a diversidade ou o numero de inserções e cobra uma taxa de agenciamento limite que pode ser de até 20%.

3. Esse excesso sobre a mídia-publicidade-técnica e a taxa de agenciamento entra como crédito para pagar a publicidade partidária e eleitoral dos anos seguintes. Uma CPI estadual - 1999/2000 - pelo menos no RJ, descreveu este processo com todos os detalhes. Em nível municipal até uma empresa de pesquisa foi criada, e uma vez seu contratante fora do governo, desapareceu. O pagamento era - outra vez - via agência de publicidade.

4. Outra forma mais grosseira é através do superfaturamento da produção para os governos. A agência de publicidade é solicitada a contratar estas produções. Como recebe sua taxa de agência, tudo bem. Esse superfaturamento entra como crédito para o partido do governo contratante junto a produtoras, etc...

5. Há vezes em que se paga dívidas de campanha com agências, produtoras e gráficas por este expediente. Um caso que a imprensa chamou a atenção foi da gráfica contratada na campanha de Tarso Genro, que ficou com dívidas, e depois foi contratada pelo ministério da educação desse mesmo Tarso Genro - ministro - cuja evidência era para pagar dívidas de campanha.

6. Valerioduto é uma variante dos casos clássicos descritos. Buscava o crime perfeito. Empresas que quisessem financiar políticos sem registro direto na conta do candidato, contratariam a agência para um trabalho normal, que era apenas realizado burocraticamente. Este dinheiro a agência repassava aos políticos em campanha por ordem dos governos, ou aos políticos - também por ordem do governo, para votarem a favor (mensalão).

7. O crime quase perfeito só não fecha quando o político ou candidatura que recebeu o dinheiro não registra o gasto relativo. No mensalão foi isso que abriu o esquema, reforçado pelo pagamento em uma só agência de banco. Tanto no caso mineiro quanto no mensalão há agravantes, que é o uso de empresas estatais como financiadoras via contratação da agência valeriana. Com as empresas privadas poder-se-ia dizer que são registros fraudados, embora formalmente adequados. Com empresas públicas configura-se um segundo delito, de maior gravidade ainda: dinheiro de acionistas públicos e privados, em sociedades de economia mista.

8. Isso deve ter ocorrido décadas atrás nos países desenvolvidos e de democracia mais antiga. Nesses países é proibido aos governos contratarem agências para fazerem a sua publicidade. A publicidade governamental - da forma que conhecemos no Brasil é proibida. Esse é o passo necessário no Brasil. Há leis, aqui, tramitando a respeito, assim como - e até - emenda constitucional. Proibir governos de contratar agências de publicidade-como o é nos EUA, França, Reino Unido, Alemanha... - é uma necessidade urgente. Que se faça logo.

LOGOTIPO DA COPA DO MUNDO 2014

quinta-feira, dezembro 06, 2007

A HEGEMONIA DOS EUA!?

Immanuel Wallerstein - Professor Emérito da Universidade de Yale presidiu a Comissão Gulbenkian, um grupo de cientistas que trabalhou com os novos paradigmas e também no Centro Fernand Braudel. Trechos - Clarin.

1- Recordemos, em primeiro lugar, que foram os chamados "neoconservadores" que vinham anunciando o declínio dos Estados Unidos nos anos 90. Claro, para eles isto constituía uma ameaça, e, portanto, projetaram uma estratégia de expansão imperialista que chamaram de "Projeto para o novo século americano". O que afirmo é que a guerra foi feita para restaurar a hegemonia norte-americana e acabou por acelerar a crise dessa hegemonia. A conseqüência foi que os Estados Unidos se precipitaram numa política desastrosa para eles.

2. O problema atual é que a hegemonia dos Estados Unidos encontra-se numa crise, segundo creio, irreversível e entramos numa situação que é e será ultraconfusa, caótica, com grandes mudanças numa direção e noutra, com pólos múltiplos de poder geopolítico, com uma situação econômica totalmente incerta e vacilante, e com um certo grau de violência no mundo todo. Isto porque assim são as transições de um sistema para outro.

3. Estamos ingressando numa situação de crise estrutural no sentido da construção de um novo sistema mundial, embora incerto. É o que os físicos da complexidade humana denominam "bifurcações": oscilações bruscas de todas as estruturas e processos que conhecemos, instabilidades que eventualmente se inclinarão numa direção ou em outra, e onde não conseguimos prever que lado da bifurcação será o lado definitivo da do novo sistema. Será um século de transição e de incerteza. Não creio que vá existir uma potência dominante ou hegemônica.

“A GENERALIZAÇÃO DA DESORDEM AJUDA OS GRUPOS CRIMINOSOS E COLOCA A DEMANDA POR SEGURANÇA ACIMA DAS DEMANDAS SOCIAIS!”

Trechos de artigo de Joaquim Villalobos, consultor para conflitos internacionais e ex-comandante guerrilheiro em El Salvador, no Clarin!

1. Na América Latina, não temos por ora conflitos étnicos e religiosos; no entanto, enfrentamos o que alguns qualificam como guerra civil continental contra o crime organizado, as quadrilhas urbanas, a delinqüência comum e a violência social. A produção e o tráfico de drogas estão ligados à globalização cosmopolita, mas, em nossos países, geram fragmentação social. Diversos grupos armados procuram cooptar e corromper as instituições, dominar territórios e controlar a população, os mercados e as estradas.

2. Este fenômeno supera em extensão as rebeliões políticas que existiram durante a Guerra Fria, e, em proporções diferentes, afeta todos os países. A ação policial e militar por mar, ar e terra que os governos realizam é sem precedentes; eles tentam recuperar o controle de instituições, mares, fronteiras, litorais, cidades e florestas que caíram nas mãos dos delinqüentes.

3. O Brasil está em guerra contra quadrilhas que dominam as grandes zonas urbanas; Guatemala e Honduras estão fragmentadas por máfias poderosas; o litoral atlântico da Nicarágua é um narco-território; a Colômbia combate os guerrilheiros de esquerda e os ex-para-militares de direita, que agora são narcotraficantes; em Salvador, as "maras" superam em número as guerrilhas dos anos oitenta; o México tem seis Estados em emergência, com intervenção de forças federais, e o maior perigo da transição cubana não é uma guerra entre cubanos, mas sim que e o crime organizado assuma o controle da ilha.

4. Existe uma lumpenização da violência da esquerda. Esta violência é promovida por antigos e frustrados ideólogos esquerdistas, mas é levada a cabo por jovens ativistas que são recrutados e atuam em áreas dominadas por uma violência de delitos que é social, financeira e territorialmente muito poderosa. Que os protestos sociais resultem em violência espontânea é algo que ocorre excepcionalmente em qualquer lugar, mas, com o cenário descrito, incentivar sistematicamente a violência de rua e deslegitimizar as instituições das democracias emergentes é multiplicar a impunidade e a insegurança.

5. A generalização da desordem ajuda os grupos criminosos e coloca a demanda por segurança acima das demandas sociais. Isto abre caminho para os autoritarismos. Hoje, mais do que nunca, a esquerda necessita de paciência, de paz e de legalidade. O romantismo guerrilheiro das velhas esquerdas agora é reacionário. O maior perigo para estes novos "combatentes" da esquerda não é morrer como heróis, mas acabar como mafiosos ou terroristas.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

DISCUTE-SE NO BRASIL, QUALIDADE NO ENSINO. CADA VEZ QUE SE PERGUNTA, AS RESPOSTAS SÃO MÚLTIPLAS E ÀS VEZES CONTRADITÓRIAS.

O FILÓSOFO ESPANHOL FERNANDO SAVATER AJUDA A ENTENDER.

1. Em princípio, a instrução – que descreve e explica os fatos – e a educação, que pretende desenvolver capacidades e potencializar valores, são formas de transmissão cultural diferentes, mas complementares, isto é, não são de modo algum opostas nem excludentes. Para dar um exemplo: dar conta objetiva de certos sucessos e processos é instrutivo; verificar, assim, o valor da objetividade para o conhecimento humano é educativo.

2. Outro exemplo: constatar a reprovação quase universal do assassinato dentro de comunidades humanas é instrutivo; deduzir disso o notável valor da vida do próximo para os homens é educativo. Perdoem-me a obviedade, em outra vez prometo voltar a ser mais talentoso.

3. A instrução promove o conhecimento do que existe; a educação baseia-se nela para conseguir habilidades e hábitos que nos permitam fazer com elas o melhor possível com o que temos à disposição. Mas isto não implica no fato de a instrução carecer de propósito referente à maneira de viver, nem que a educação tenha permissão para converter-se em mero voluntarismo contrafator.

terça-feira, dezembro 04, 2007

AS MUDANÇAS NA ESTRUTURA DE PREÇOS DE OFERTA E DEMANDA DOS PRODUTOS COM BASE EM RECURSOS NATURAIS, COMO ALIMENTOS

JEFFREY SACHS (Diretor do Earth Institute e da U. de Columbia)

Trechos!

1. Atualmente, a escassez cada vez maior de recursos naturais é uma tendência fundamental no mundo todo. Nos últimos anos, o petróleo e o gás natural foram às alturas. O mesmo ocorreu com os alimentos nos últimos doze meses. A razão essencial do encarecimento dos recursos naturais é o forte crescimento econômico, sobretudo na China e na Índia, que se choca com os limites físicos das reservas de terras, de madeira, de petróleo, de gás e de água.

2. A impressionante escalada mundial dos alimentos obedece a muitas causas, mas o ponto de partida é o aumento do consumo, mais uma vez impulsionado energicamente pelo crescimento econômico da China. Seu povo come mais, principalmente carne. Por sua vez, isto torna necessário importar maiores quantidades de alimentos para animais, fabricados à base de soja e de milho. Por outro lado, a alta mundial dos preços da energia encareceu a produção de alimentos, que a consome em grandes quantidades (fertilização, trabalhos agrícolas, transporte).

3. Ao mesmo tempo, a referida alta cria um forte incentivo para que os agricultores substituam a produção de alimentos pela de combustíveis. Os norte-americanos estão convertendo em etanol 2000 milhões de bushels de milho, numa colheita total de 12.000 milhões no ano comercial 2006–2007. Para 2007-2008, está previsto elevá-los a 3500 milhões de bushels (medida equivalente a 35,23 litros). As novas refinarias de etanol em construção, mais de 70, duplicaram o consumo de milho para produzir o referido combustível.

4. Consequentemente, intensificaram a carestia do cereal para alimentação. Estas três ameaças – crescente demanda mundial, conversão de alimentos em combustíveis e as transformações climáticas – têm tido um papel conjunto na subida dos preços mundiais dos alimentos, muito mais do se previa, inclusive, há alguns anos.

SENADO! APRENDENDO COM AS RELAÇÕES POLÍTICA E MÍDIA! OU... MEU MUNDO CAIU!

1. Nos anos 50, o deputado Antonio Balbino (foto), falava a deputados de primeiro mandato que estavam polemizando com a mídia, aconselhando: - Nunca desminta a imprensa. Faça uma nova afirmação.

2. Os políticos fracos são apenas reativos à imprensa. Nas ditaduras só circula a imprensa que faz o que o governo manda. As situações intermediárias são inúmeras. De todos os matizes. O ideal é seguir o ensinamento de Balbino e entender que cada um - política e imprensa - tem seu campo, sua natureza, sua lógica de atuação.

3. No século 19, grande parte da imprensa era porta voz desta ou daquela força política. A publicidade privada dá autonomia à imprensa e cria as melhores condições para que cada um desenvolva seu próprio campo de atuação. A publicidade como fim das atividades comerciais da mídia, seu faturamento, permite se ver com maior clareza as diferenças entre mídia e política. O que é meio para um é fim para outro, ou seja, a “audiência". O limite para a mídia é a credibilidade. Para o político, o mandato.

4. A velocidade da informação e a pressa da notícia criou nos últimos anos uma escola dentro da política, de conseqüências problemáticas. Na medida que a imprensa precisa mudar de tema, de fato, de notícia, vários dos políticos cujo voto não passa pela opinião pública, desenvolveram o método do "espera que passa". Ou seja, se a imprensa bate num político em forma de campanha, seria questão de resistir um pouco, alguns dias ou semanas, mandar a família passar férias fora e esperar que o noticiário vai passar e volta "tudo como dantes como no quartel de Abrantes".

5. Foi essa "escola" que prevaleceu no caso Renan. Seria questão de resistir por algum tempo que depois as notícias sairiam da imprensa e ficaria tudo igual, com baixa memorabilidade, de sempre, pelo surgimento de tantos fatos novos. E assim foi. Quase deu certo.

6. O que não contavam é que a cobertura dos fatos alcançasse aqueles políticos que precisam de opinião pública, em especial os do PT. O PT comprou a tese do "espera que passa" e do "é como injeção que dói um tempo". Só que a natureza de seus mandatos e de outros do PMDB não é a mesma dos - renansistentes -, que prescindem disso, especialmente da grande imprensa nacional.

7. Mas o processo de cobertura chegou à opinião pública e - por esta mesma cobertura da imprensa - chegou aos senadores que não podem prescindir dela. O resultado é que tudo desmoronou. A escola do - tempo limpa tudo - se esqueceu que precisava dos que não podem deixar de lado a opinião pública. E nesse ponto a tática desmontou-se. O mundo caiu. Caiu pelo impacto nos outros. Não esperavam por essa. Que todos - em especial os "outros" aprendam.