sábado, janeiro 31, 2009

CRISE ATUAL É O INVERSO DA DE 29 EM SUAS CAUSAS! OS REMÉDIOS NÃO SÃO OS MESMOS!

Este Blog recomenda a leitura. Fez a redução possível no artigo de Daniel Gustavo Montamat, doutor em economia, publicado no La Nacion!

1. Os sintomas dessa crise se parecem com os da crise dos anos 30, pelo consenso unânime de injetar liquidez. Mas a causa é distinta da observada na crise de 1930: aquela foi uma crise de sobre-produção e esta é uma crise de sobre-consumo. Para facilitar a digestão dos desequilíbrios, impõe-se preservar os mecanismos que dinamizem o comercio mundial. Estados Unidos deverão reativar-se mais por meio de investimento e de exportações do que por consumo.

2. A primeira globalização, que experimentou a economia mundial no final do século XIX e começo do século XX, também teve fundamento num salto tecnológico com grandes lucros de produtividade. O mundo se tornara interdependente como nos nossos dias. Aquela globalização acabou por impulsionar a crise dos anos 30, que, tal como o atual, ficou caracterizada como financeira, quando, na realidade, também foi precipitada por desequilíbrios econômicos.

3. É esclarecedor estudar o comportamento da economia americana no período anterior à depressão dos anos 30. Conforme a produção aumentava e o emprego baixava, a produção por homem/hora (produtividade da mão de obra) se incrementava com rapidez; de fato, entre 1920 e 1929. Em 1929 os lucros das grandes empresas manufatureiras se elevaram de modo significativo: triplicaram em comparação com os de 1920. A iniqüidade na distribuição dos benefícios da produtividade daquela segunda revolução industrial, junto com a ausência de mecanismos de crédito hoje existentes e o predomínio de preferências de consumo moderno, gerou uma crise de sobre-produção e de sub-consumo nos Estados Unidos, que se propagou para o resto do mundo.

4. As receitas keynesianas para ocupar os recursos ociosos e ativar a demanda global eram o remédio apropriado para digerir os estoques acumulados e colocar de novo plenamente em funcionamento o aparelho produtivo. Naquela crise, o mundo se fechou ao comércio com políticas protecionistas, adiando a digestão dos desequilíbrios e prolongando a tendência recessiva.

5. A crise econômica atual, também tem sua origem em grandes desequilíbrios da economia dos Estados Unidos. Mas, neste momento, ao contrário dos anos 30, estamos diante de sobre consumo. Também a onda globalizante do final do século passado e do começo deste século está originada numa revolução tecnológica. Como nas ondas anteriores, geraram-se lucros substanciais de produtividade.

6. Os salários dos chineses e a competência de sua manufatura favoreceram a estabilidade de preços e o poder de compra de muitos bens derivados da nova tecnologia industrial. O surgimento da China e de outros países emergentes na economia global também explica em boa parte o auge dos preços de energia e de alimentos nos últimos anos.

7. Entre 1950 e 1980, por cada dólar de produto mundial havia um dólar e cinqüenta de crédito. Em 1990, a relação passou de 1 para 3 e, em 2007, de 1 para 4,5. O crédito fácil e a alquimia financeira, em que a atomização do risco implica em sua eliminação, foram fundamentais para o consumismo, porque permitiram flexibilizar as restrições orçamentárias até os limites irracionais. Durante muitos anos, a economia americana consumiu acima de suas possibilidades, operando como comprador em última instância dos excedentes comerciais do resto do planeta, que a financiaram com excedentes de poupança.

8. A comunidade internacional operou até agora sobre os efeitos financeiros da crise. O fantasma dos anos 30 obrigou a tomar medidas para assegurar a liquidez do sistema. Agora cabe a vez de atacar a causa econômica da crise. Isto também compromete um esforço mundial concertado. Numa sociedade onde houve sobre-consumo, deve-se ter cuidado com as políticas de estímulo da demanda global, mesmo quando a recessão freie as vendas e acabe por aumentar os estoques.

9. A atual administração (com Alan Greenspan na direção da Reserva Federal) enfrentou a crise das ações ponto com e a recessão do princípio do novo século com um arsenal de políticas monetárias e fiscais destinadas a estimular a demanda. Logrou o objetivo por alguns anos, até a explosão da bolha imobiliária. Voltar a estimular o sobre-consumo americano para sair da crise é o atalho que muitos imaginam, porque subscrevem o diagnóstico financeiro e subestimam o diagnóstico econômico do problema.

10. Cuidado, porque a ansiedade de curto prazo pode levar a fomentar outras bombas de tempo no futuro imediato. O acordo mais relevante para abordar o capítulo econômico e as conseqüências sociais da crise passa por preservar os fluxos do comercio mundial. O comercio permitirá reequilibrar a economia mundial minimizando os custos inevitáveis do ajuste. A volta a praticas protecionistas pode tornar as coisas muito mais difíceis. Estados Unidos deverão reativar-se com ênfase nas exportações e nos investimentos.

11. A crise e suas prioridades não podem adiar decisões fundamentais em matéria de energia, meio ambiente e recursos naturais. Em tempos pós-modernos, um papel chave que deve reforçar-se nos Estados e nos organismos internacionais é a representação no presente dos interesses das futuras gerações. Quando as vacas gordas voltarem para inaugurar outro ciclo, a comunidade internacional deve ter acordos avançados que reconciliem o crescimento com desenvolvimento sustentável.

Nenhum comentário: