segunda-feira, março 12, 2007

Brasil: País do Presente

A síndrome de nação do futuro alimenta o nosso imaginário popular desde que Stefan Zweig, pelos idos dos anos 40, publicou a obra ''Brasil - País do Futuro''. O civismo de muitas gerações se nutriu desse jargão ufanista.
No crepúsculo dos sonhos surgiu um alento. Em 2003 - em forma de acrônimo cunhado pelo grupo Goldman Sachs surgiu o termo BRIC ''utilizado para designar o Brasil, Rússia, Índia e China'' os quatro países de maior potencial de crescimento econômico, projetando-se as próximas décadas.

A China, com o seu crescimento colossal, acompanhada da Rússia e Índia, vem seguindo o vaticínio lançado pelo mencionado banco de investimento norte-americano.

Lamentavelmente, o Brasil, estagnado economicamente há mais de duas décadas, caminha a passos largos para ser alijado do BRIC.

Em que pese a incapacidade de gerar desenvolvimento sustentável, o nosso País é dotado pela natureza de fatores inesgotáveis para enfrentar desafios e gerar riqueza. Há cinco séculos, desde 1549, quando Tomé de Souza implantou o primeiro governo geral na Bahia, a então nascente colônia portuguesa gerou o primeiro ciclo econômico virtuoso, expressado na agricultura da cana de açúcar.

Cinco séculos depois, a cana de açúcar volta a ter importância estratégica para a economia nacional. O Brasil é o maior produtor mundial de etanol, proveniente da cana de açúcar, com nível de eficiência superior em até seis vezes ao etanol gerado pelo milho, trigo e outros bens primários que os Estados Unidos de forma pioneira expandiram, a partir de política interna de privilégios e subsídios oferecidos aos agricultores norte-americanos.

O etanol brasileiro nasceu na década de 70, empreendendo autêntica revolução energética no cotidiano dos brasileiros. Em meio a crise do petróleo da década de 70 - o Brasil fortemente afetado - o governo brasileiro alterou a nossa matriz energética. Nascia então o Pró-Álcool, programa concebido para abastecer a frota nacional de veículos, tendo como carro-chefe o combustível oriundo da cana de açúcar.

Infelizmente, nas décadas seguintes, o programa foi sendo gradativamente desativado, a partir de sucessivos equívocos perpetrados pelos mais diferentes atores envolvidos na questão. Todavia, foi a ausência de diretriz governamental na definição de garantia de abastecimento para os veículos que levou milhões de brasileiros a rejeitar o carro a álcool. Os grandes produtores, por sua vez, adequavam as suas usinas à conjuntura dos preços internacionais, ou seja: se a cotação da tonelada de açúcar exportado era maior, porque produzir álcool? Foi o tiro de misericórdia no Pró-Álcool.

Em boa hora, reflexo da atual consciência ambiental, o etanol, por ser um combustível limpo e antipoluidor, ganhou importância mundial, ''surfando'' na onda da busca de combustíveis alternativos ditada pela estratégia global de desenvolvimento.

Nesse cenário, o Brasil desfruta de posição privilegiada. Contudo, se não definir o quanto antes política energética séria e enérgica na defesa dessa riqueza nacional, poderá ser atropelado. Não se trata de nenhuma tese conspiratória, mas de constatação baseada em dados de realidade. Na guerra da energia que já começa a ser travada e se alargará pelos próximos anos, o Brasil precisa ser ator ativo e não mero figurante.

Outra frente, na qual despontamos na vanguarda da pesquisa de combustíveis alternativos, é o biodiesel. Nesse caso, há se de ressaltar o notável trabalho da Petrobras, que há décadas traçou objetiva estratégia: não ser apenas uma petroleira, mas uma sólida empresa de energia. Ao longo de anos vem estudando e pesquisando outras fontes produtoras e geradoras de energia a partir da agricultura. O biodiesel brasileiro tem aí a sua origem. Essa estratégia impediu que o Brasil fosse atropelado ante a descoberta de diversas fontes de produção de biodiesel.

Se o programa do biodiesel for implantado com eficiência e competência técnica, poderá suplantar a importância do próprio etanol. O fato objetivo é que são dois vetores novos no cenário energético mundial onde a situação brasileira é, sob qualquer ângulo, extremamente privilegiada. É hora de lançar as bases do Brasil do presente, abandonando a quimera do futuro.


Senador Alvaro Dias - vice-presidente do Senado Federal

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