1. O Partido Conservador britânico anunciou o maior corte de gasto público que se lembra o Reino Unido desde a II Guerra Mundial. É o maior ajuste do Estado do Bem Estar, jamais pensado por um governo britânico. Ainda que a motivação oficial seja econômica, pode acabar marcando politicamente a legislatura que acaba de começar.
2. O que não se sabe ainda é em que sentido vai apontar. O que se sabe é que quase meio milhão de trabalhadores do setor público vão perder o emprego. Que o Estado de Bem Estar britânico vai se ver reduzido em mais de 19 bilhões de libras ao ano, (21,6 bilhões de euros). Que as taxas universitárias vão se multiplicar. Que os exércitos britânicos vão perder efetivos humanos e materiais. Que conseguir uma habitação social vai ser muito mais caro. Que homens e mulheres vão ter que trabalhar até os 66 anos, antes de poder cobrar uma aposentadoria pública.
3. O ministro da fazenda, George Osborne (foto), adotou tons dramáticos ao apresentar o ajuste na Câmara de Deputados: "Hoje é o dia que Grã-Bretanha dá um passo atrás, estando na beira do abismo", disse. "Atacar o déficit orçamentário é inevitável. Renunciar agora a isso e abandonar nossos planos seria um caminho à ruina económica", agregou. "Temos a pior herança económica da historia", dramatizou. "Temos que tomar decisões duras para assegurarmos que a catástrofe económica dos anteriores Governos não se repita", insistiu.
4. Argumentos, na realidade, mais políticos que económicos. Ninguém no Reino Unido discute que há que reduzir o déficit público. Nem sequer os trabalhistas. O debate, vem há meses, mas, todavia agora, e até onde tem que chegar a tesoura, em um momento, em que a recuperação económica é muito frágil. "Não era necessário concentrar-se tanto o ajuste no gasto. Isso era una opção. Eu poderia estar em geral de acordo com isso. Mas é tanto uma decisão política como uma necessidade económica", escreveu no mesmo dia Martin Wolf (foto), legendário comentarista do Financial Times e nada suspeitos de ser de esquerda.
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