Eu sou cordial, já o cavalheiro do texto abaixo é um poltrão!
Já citei, Robert Musil (“O homem sem qualidades”) anteriormente. Trata-se de uma campanha, minha, para que vocês o leiam. Sou uma pessoa dada a obsessões irrelevantes. Não tenho grandes planos para a Humanidade. Eu os deixo todos para os benignos homicidas. Falando de Kakânia, um país imaginário atacado por uma discreta e contínua mediocridade, escreveu ele: “Tomava-se um gênio por patife, nunca se tomava um patife por um gênio.” Ditosa Kakânia! Em Banânia, fazemos as duas coisas. Dia desses, um político lembrava o “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda. Estava na cara que, a exemplo da maioria dos nossos intelectuais do Complexo PucUsp ou do Complexo do Alemão, não tinha lido “Raízes do Brasil” — e olhem que o livro é pequeno; não chega a ser um “Casa grande & senzala” (de que a maioria dos esquerdistas não gosta sem nunca ter lido)."
Dizia o indigitado que a política há de ser feita com “cordialidade”, justificando essa geléia geral em que todos são “progressistas e de centro-esquerda”. O chute foi longe. A “cordialidade” a que se refere Sérgio bada tem a ver com a boa educação de salão, e sim com a nossa incapacidade de criar instituições generalistas e impessoais, que não dependam do arbítrio do nhonhô. Está longe de ser uma característica positiva, uma qualidade desse povo mestiço, cheio de ginga, graça e veneno.
Se Sérgio tivesse ido mais longe, poderia ter acrescentado que essa “cordialidade” impede que os brasileiros se vejam como indivíduos donos de seu nariz. As relações e reações sentimentais resultam em autocomplacência e tolerância com tudo que nos inviabiliza. Eu tenho horror a certa antropologia da mestiçagem - que nada tem a ver com Gilberto Freyre! – que pretende transformar o Brasil não institucional, informal, deseducado, docemente violento, numa nova civilização.
Darcy Ribeiro estendia-se largamente sobre isso, com aquela capacidade ímpar de falar bobagens profundas; com aquela loquacidade que não resistia a uma análise sintática. O contraponto a esse cretinismo vem na forma das tais ações afirmativas, que pretendem combater a leitura errada da tal cordialidade com, vejam só, a implementação do racismo, agora na letra da lei. É o que vai acontecer se o tal Estatuto da (Des)Igualdade Racial for aprovado.
Entre o integracionismo bocó, by Darcy Ribeiro e outras caranavalizações, que leva uma atriz a buscar o “verdadeiro” humanismo na periferia dominada pelos coronéis do narcotráfico, e a virulência politicamente correta dos cafetões das minorias, falece o indivíduo, visto, em qualquer dos casos, sob ótica de alguma forma de tutela. Parece haver um ente ou sobrenatural ou “supra-social” encarregado de agir em nome do sujeito, que não pode jamais responder por si mesmo.
Meu amigo, Dep. Tocha, me disse que sou muito duro, pessimista, e que seria o caso de “pegar mais leve” para convencer mais pessoas. Eu não quero convencer ninguém. Não pastoreio almas. Não sou homem cordial. Não confundo as minhas sensações ruins com compaixão. Não tomo gênios por patifes. Nem patifes por gênios. Só tenho a grande ousadia de pedir que se cumpram as leis democraticamente votadas.
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