“A democracia é a arte e a ciência de administrar o circo a partir da jaula dos macacos.”
Um dos méritos da democracia é bastante óbvio: é talvez a mais charmosa forma de governo já criada pelo homem. O motivo não é difícil de descobrir. Ela se baseia em proposições palpavelmente falsas - e o que não é verdade, como todo mundo sabe, é imensamente mais fascinante e satisfatório para a maioria dos homens do que o que é verdadeiro. A verdade tem uma aspereza que os alarma, e um ar de finalidade que entra em choque com seu incurável romantismo. Quando se vêem nas grandes emergências da vida, voltam-se para aquelas velhas promessas, todas falsas mas deliciosamente reconfortantes - e das quais a campeã é a que diz que os pobres herdarão a terra. Esta promessa está tanto na raiz do sistema religioso no mundo moderno como no sistema político
Todas estas formas de felicidade são, naturalmente, ilusórias. Não chegam a durar. O democrata que pula no abismo para bater suas asas e entoar aleluias acaba com o nariz no chão. As sementes deste desastre estão em sua própria estupidez: ele não consegue se livrar daquela ingênua ilusão, tão cristã, de que a felicidade é algo que só se consegue tomando-a de outro. Mas há sementes também na própria natureza das coisas: uma promessa afinal não passa de uma promessa, mesmo quando baseada numa revelação divina, mas as probabilidades de que seja cumprida podem ser expressas por uma deprimente fórmula matemática. Aqui, a ironia que jaz sob toda a aspiração humana revela: a busca da felicidade, como sempre traz, apenas infelicidade no fim das contas. Mas dizer isto é o mesmo que dizer que o verdadeiro charme da democracia não é para as “fuças” do democrata, e sim para a platéia. Esta platéia, me parece, tem a sua frente um show de primeira. Imagine alguma coisa heroicamente absurda: um desfile de cretinices óbvias, ambições grotescas fraudes sem fim! Mas quem se diverte com a fraude? A fraude da democracia é a mais engraçada de todas - mais até, deixando no chinelo a fraude das seitas fundamentalistas (qualquer). Pergunte a seu travesseiro a respeito das invenções democráticas mais características. Ou dos típicos profetas democráticos. Se você adormecer imediatamente por falta de respostas, também não achara a menor graça no dia do Juízo Final, quando os evangélicos pularão do túmulo como pintos de um ovo, asas brotarão de suas omoplatas (não sei se ainda é assim que se chama este osso) e eles alçarão vôo rumo as estrelas piando de felicidade.
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