quinta-feira, abril 30, 2009

Explicação

Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem a sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso.
E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo esta cambalhota!
(Carlos Drummond de Andrade).


Amigos, o vício é uma coisa séria. O vício é coisa difícil de largar. Na última quinta-feira, despedi-me de vocês, resolvido a nunca mais escrever colunas sobre futebol. Pedi a conta na Furacao.com e passei e-mail aos amigos comunicando a minha decisão.

Recebi dezenas de respostas pedindo pra ficar ou, ao menos, não deixar de escrever, nem que fosse para o “Fala, Atleticano”, a coluna do leitor do site. Firme em minha decisão, li cada um dos pedidos, respondi e firmei posição de não voltar de jeito nenhum.

Pelas minhas contas, foram 250 colunas em cinco anos, contabilizadas as colunas como leitor no “Fala, Atleticano” e depois como Colunista do RubroNegro.Net e da Furacao.com. Escrever mais o quê? Nada mais a declarar, encerrei a noite de quinta-feira decidido a não escrever mais sobre futebol. E a noite se abriu em sonhos.

Sexta-feira de manhã, algo me incomodava. Tomei café, fumei e nada de o incômodo passar. Liguei o computador e iniciei um parágrafo “O Geninho precisa parar com essa mania de botar os garotos no final da partida, pois isso não resolve nada”. Atônito, olhei para o micro e apaguei o período: colunas de futebol? Jamais.

Na tela, arrisquei um poema “Só a tua ausência me deu a real dimensão do quanto sinto a tua falta!” – mas o que é que me faltava? Tinha estado com a Edith na noite anterior, tinha estado com os amigos havia poucos dias, tudo que eu poderia querer estava comigo, mas na tela o poema era um neon na minha cara “Só a tua ausência me deu a real dimensão do quanto sinto a tua falta!”.

Resignado, dobrei-me diante da verdadeira verdade: faltava-me a coluna, este vício maldito. Vício é coisa séria, difícil de largar. E junto com essa inafastável verdade vieram-me os versos de Drummond, os quais cito no início deste texto, mas me vieram convertidos em paródia que também pode se chamar “Explicação”:

Minha coluna é minha consolação.

Minha coluna é minha cachaça. Todo mundo tem a sua cachaça.
Para escrever, site pequeno, coluna do leitor, site grande, Orkut, e-mail, blog, tudo serve.
Para louvar o Atlético como para aliviar os nervos, queixar o desprezo, cantar minha vida e trabalhos é que faço minha coluna. E minha coluna me agrada.
Minha coluna me agrada sempre...
Ela às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota, mas não é para o público, é para mim mesmo esta cambalhota!
Definitivamente, era preciso voltar a escrever as colunas. Mas onde? Tinha pedido para sair do site. E agora, Rafael? Em plena Sexta-Feira da Paixão, eu estava sem esperanças de voltar a escrever. Triste, fui à área de serviço, acendi um cigarro e por uma fresta da janela assoprava a fumaça para longe, como se criasse uma outra forma de me comunicar com Deus.

Não demorou muito e minha mãe veio me perguntar o que é que estava havendo. Contei-lhe sobre a perda da coluna e ela disse que a Páscoa é tempo de renascimento. Irônico, perguntei-lhe “Até colunas renascem na Páscoa?” e ela apenas repetiu “Páscoa é tempo de renascimento!”. Lembro-me só de ter dito “Amém!”.

Não me perguntem como, não queiram saber quem por mim intercedeu, mas eis que no Domingo de Páscoa me (re) apareceu um velho Amigo, Dr. Waldemar,
a me oferecer espaço neste blog para veicular minha coluninha, meu vício, minha cachaça, minha consolação.

Agradecido e cheio de felicidade, aceitei o convite do bom Amigo e neste espaço publicarei minhas colunas, a começar por hoje. E como o blog é rico noutros tantos assuntos - política, arte e literatura - é bem capaz de eu me animar a fugir um pouco do Atlético e publicar uns poemas, ou tentativas de poemas, coisa que até então não tinha podido fazer.
Para escrever, site pequeno, coluna do leitor, site grande, Orkut, e-mail, blog, tudo serve.
Para louvar o Atlético como para aliviar os nervos, queixar o desprezo, cantar minha vida e trabalhos é que faço minha coluna. E minha coluna me agrada.
Minha coluna me agrada sempre...
Espero, humildemente, que ela também agrade vocês, queridos leitores, prezados amigos, companheiros sem os quais a vida perde muito de sua graça e de sua beleza!
Abração do Rafael Lemos, agora sob as ordens do preclaro Chefe, Waldemar Pluschkatt Neto, meu velho e bom Amigo, convertido agora em Anjo da Guarda!

E-mail para contato:
rflemos75@hotmail.com

PROTESTO!