sexta-feira, fevereiro 27, 2009

NÃO É A PIOR

Os sinais vitais da economia dos países ricos vão de mal a pior, nesta virada de mês. Mas ainda não é, como se diz por aí, a maior crise do mundo dos últimos 80 anos.
A grande crise foi a do triênio 80-82, quando, nos Estados Unidos, a recessão anual chegou a 4%, com inflação de 14%, juros de 21% e desemprego de 11% - com sobras para o mundo todo, porque crise produzida pelo segundo choque do petróleo.

Foi a chamada década perdida - nada menos de 34 países, Brasil no meio, entraram em moratória.

Nesta crise, nenhum.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

LIBERDADE PARLAMENTAR!

Karl Marx (foto) escreveu uma série de seis artigos no Rheinische Zeitung entre 5 e 19 de maio de 1842, comentando o debate sobre a imprensa que se deu na Assembléia Regional em Dusseldorf. A editora L&PM publicou como livro, no Brasil, com o nome de "Liberdade de Imprensa". Abaixo um trecho do primeiro artigo.
Na realidade, o desenvolvimento da liberdade parlamentar no antigo sentido francês - a independência vis a vis a opinião publica - derivou em isolamento.
Não podemos deixar de advertir sobre esse conceito. Um genuíno Parlamento Político prospera somente sob a proteção da mente pública, assim como a vida prospera sob a proteção do ar livre. Só plantas 'exóticas', plantas que são transplantadas a um clima diferente, requerem a proteção e o cuidado das estufas.

O POLICIAMENTO INTERNO DE FAVELAS!

1. O policiamento interno e permanente de favelas pela polícia é uma necessidade. As ocupações provisórias pela polícia colocam os moradores em pânico, pois quem se mostrar simpático aos policiais será retaliado, morto, ou terá que abandonar sua casa e sair da comunidade quando os traficantes voltarem. São dezenas e dezenas de casos e o mais recente foi o fracasso da ocupação do "Alemão" em 2007, por 4 meses.

2. No entanto a ocupação esporádica fora de uma política de policiamento interno permanente servirá mais para produzir notícias boas na imprensa que para caminhar na direção de uma solução efetiva e progressiva. Em geral essas ações pontuais e emblemáticas são tentativas de criar expectativas num quadro de política de segurança fracassada.

3. Começar por uma pequena favela, vertical, íngreme, de fácil controle, pode ser uma indicação disso. Colocar 125 PMs nela, nesse caso, significa uma relação de 1 PM para 40 moradores, relação que não permitiria apontar para a universalização em longo prazo. Para 500 mil moradores em favelas, metade do total, seriam 12.500 PMs a mais.

4. Em seu programa de segurança pública em 1998, aperfeiçoado em 2002, o PFL-RJ, hoje DEM, tratou da questão, pensando na ampliação progressiva. Para isso indicou a necessidade de iniciar por uma comunidade, em aglomerados ou em conjunto seqüencial de morros. Citou as favelas da Tijuca. Com isso a relação PM/Morador seria decrescente a cada ocupação através de economia de escala.

5. A fixação de moradia de policias internamente em áreas urbanizadas ou em seu entorno criaria uma força adicional facilmente mobilizável. Essa é a lógica das milícias, que ocupam uma área com efetivo maior e após a fixação de policiais, inicialmente milicianos, na comunidade, o efetivo é reduzido drasticamente, pois os policiais fixados passam a ser uma espécie de força de reserva.

6. A escolha aleatória de comunidades, sem a possibilidade de expansão do programa, é muito melhor que nada, mas terá muito mais um impacto simbólico, tipo efeito-demonstração, que um resultado efetivo. Serão casos isolados.

7. Como, aliás, já tem sido. Exemplo disso é a comunidade ao lado do Bope, que já vem de alguns anos e não gerou efeito multiplicador, pois não significava nenhuma política de segurança, mas um projeto.

PRIORIDADE DE GOVERNO E POLÊMICA!

Em uma série de notas, este Blog reproduziu trechos do livro de Peter Drucker (foto): Administrando em Tempos de Grandes Mudanças. Esse é um dos trechos, capítulo 6: Regras para Presidentes. O que Drucker chama de presidente, não só é o presidente do país, como governadores e prefeitos. São regras para os chefes de governo. A segunda regra é:
Concentre-se, não se divida. A prioridade máxima do presidente tem de ser algo que precisa ser feito. Se essa prioridade não for altamente controversa, é provável que seja uma prioridade errada."

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O mundo como ele é

Judy Wallman, pesquisadora americana de genealogia, montou sua árvore genealógica, e descobriu que seu tio-bisavô Remus Reid era também ancestral do senador Harry Reid, democrata de Nevada. O parente comum tinha sido condenado e enforcado por roubo de cavalos em Montana, em 1889. A única foto (ao alto a esquerda) disponível de Remus Reid era a de seu enforcamento. No verso da foto, a inscrição: "Remus Reid, ladrão de cavalos, preso na prisão do Território de Montana em 1885, fugiu em 1887, roubou o trem Montana Flyer por seis vezes. Localizado e preso por detetives da Agência Pinkerton, foi condenado e enforcado em 1889".
Judy Wallman enviou e-mail ao senador Harry Reid (foto ao lado) pedindo informações sobre o parente comum, sem mencionar o que havia descoberto. Recebeu a seguinte mensagem: "Remus Reid foi um famoso vaqueiro no Território de Montana. Seu império comercial cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos exemplares de cavalos de raça, bem como um íntimo e profícuo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883 dedicou vários anos de sua vida ao serviço do governo estadual. Depois disso, licenciou-se para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia. Em 1887, foi o elemento fundamental em grande investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889 veio a falecer durante importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual estava cedeu logo após seu discurso."

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Por que tivemos a crise econômica



Para quem ainda não entendeu bem as origens do abalo na economia global que estamos vivendo, esse vídeo é imperdível.
É um programa de entrevistas, do tipo do Jô Soares, onde um banqueiro explica, de forma simples e irônica, o que aconteceu.
Vale a pena "investir" 8 minutos.

OS BANCOS E A LIQUIDEZ DADA PELO GOVERNO FEDERAL!

1. Muitos bancos médios e pequenos têm reclamado da forma com que os grandes bancos têm reagido às linhas de crédito que o governo federal tem aberto a eles. A princípio essas linhas deveriam ser repassadas aos bancos menores para aliviá-los de situações de iliquidez para comprar parte das carteiras, etc.

2. Mas não é isso que está acontecendo. Os grandes bancos insistem em salvar os menores, absorvendo-os. Ou seja, em vez de salvar os menores, estão querendo comprá-los e oferecendo de partida o valor atual de seus patrimônios, uns 40% menor que antes da crise. Muitos estão resistindo à venda. Mas outros só resistem aos preços e estão dispostos a serem vendidos a um preço intermediário entre o antes da crise e o atual.

3. Se isso ocorrer de forma significativa, a concentração bancária aumentará e o desemprego de bancários com ela, pela economia de escala administrativa e pela proximidade de agencias e serviços. É verdade que os clientes poderiam ficar satisfeitos por passarem neste momento para um banco mais forte, no entanto os efeitos seguintes serão negativos: concentração e desemprego.

A crise econômica nos Estados e Municípios!

1. O impacto da crise econômica nos EEs e MMs dependerá da estrutura de suas economias e das economias de seus entornos. Quanto maior o peso de setores de menor elasticidade da demanda, menos impacto a crise terá. E ao contrário. Por exemplo: o Rio-Capital tende a ser mais resistente que SP - Capital. Assim tem sido em outros períodos recessivos. Certamente na expansão se dá o contrário.

2. Por outro lado, os governos municipais e estaduais poderão ou não ser agentes anticíclicos. Todos devem separar as despesas em "controláveis e não controláveis", "flexíveis e inflexíveis". Por exemplo: o serviço da dívida é não-controlável e inflexível ao mesmo tempo. Os programas descontinuáveis são controláveis e flexíveis. A folha de pagamentos é não controlável para o caso dos estáveis, mas na margem pode ser flexível. Os programas recreativos são em geral controláveis e flexíveis, mas alguns programas sociais são controláveis, mas inflexíveis.

3. Da mesma forma se deve analisar a estrutura das receitas. Os Estados e Municípios que dependem muito dos Fundos de Participação (nordeste e norte, especialmente) sofrerão mais em função do imposto de renda e do IPI. Paradoxalmente, tendo uma economia interna menos exposta ao ciclo, suas receitas dependem do que acontece com os setores mais expostos ao ciclo no sudeste.

4. O Estado de SP, por sua maior liquidez, prorrogou em dois meses o prazo de recolhimento do ICMS. Isso deu capital de giro às empresas. Mas, por uma vez e de forma generalizada, atendendo aos que precisam e aos que não precisam. Melhor seria reduzir o prazo de pagamento no calendário de seus fornecedores e com isso impactar permanentemente os setores que estão diretamente ligados aos governos. E como a resultante dos gastos dos EEs e MMs é de menor efeito cíclico, essa decisão teria um multiplicador permanente e permitiria inclusive a redução de seus custos.

O IMPACTO DA CRISE ECONÔMICA NO BRASIL!

1. Comecemos por um cálculo simples, em base a uma hipótese. Se a partir de dezembro a economia tivesse crescimento zero, como ela vinha crescendo trimestre a trimestre numa curva ascendente, ao se comparar essa economia que não cresceria em 2009 com o PIB de 2008, apareceria um crescimento de 2%. Na verdade crescimento de média sobre média.

2. No entanto a partir do mês de dezembro, novos jovens chegaram ao mercado de trabalho, novas crianças procuram as escolas, novas pessoas demandam o sistema público de saúde. Para se ter uma idéia, o pesquisador Marcio Porchman, hoje presidente do IPEA, mostra em seus trabalhos que para que os novos contingentes provenientes da dinâmica demográfica sejam inteiramente absorvidos, o PIB teria que crescer 4% e só a partir daí, reduziria a taxa de desemprego e reduziria a demanda de serviços públicos.

3. O PIB brasileiro terá queda no quarto trimestre, comparado com o terceiro, mas se supusermos que ficará estável e assim fosse pelo ano de 2009, o crescimento, estatisticamente, seria um pouco menor que 2%. Ou seja, quando empresários, economistas e autoridades falarem que o PIB em 2009 crescerá 2%, estarão dizendo que ficará horizontalmente parado a partir do final deste ano.

4. A irrigação financeira aleatória pelo governo não garante a melhor ou mais anticíclica alocação de recursos. Caberia ao governo analisar em base a teoria e em base aos ciclos no Brasil, que segmentos são menos afetados por conjunturas de recessão e entender a partir daí a graduação e orientar a irrigação de forma a mitigar os efeitos da crise.

5. A princípio poder-se-ia imaginar que se deva começar pelos setores afetados pela recessão. Talvez não. Ativar os setores menos cíclicos, cuja demanda é inelástica ou de menor elasticidade e partir do multiplicador deles para multiplicar a demanda pode ser mais consistente. O mercado não é um bom alocador de recursos num quadro de crise. E a irrigação pura e simples dos setores em crise pode ser um oxigênio para esses, sem impacto macro-econômico.

Aquarius - Fifth Dimension

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Política, estratégia e coerência

Luiz Eduardo Rocha Paiva - Publicado no Estado de S ão Paulo 06 de Fevereiro de 2009


A Estratégia Nacional de Defesa (END), trabalho presidido pelo ministro da Defesa e coordenado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, entrou em vigor em dezembro de 2008. Ela supre a lacuna existente entre a Política de Defesa Nacional (PDN), à qual se alinha, e a Estratégia Militar de Defesa, que deve ser revisada para se conformar à END. Os dois primeiros documentos são de âmbito nacional, enquanto o terceiro é mais afeito ao campo militar, embora não exclusivamente.

A END, sabiamente, avalizou muito do que já constava nos planejamentos das Forças Armadas - estratégias, programas e objetivos -, em grande parte paralisados por falta de recursos. Louve-se a manutenção do serviço militar obrigatório e a proposta de um serviço civil, ao qual, a meu ver, deveriam concorrer cidadãos e cidadãs formados nos cursos técnicos e superiores do ensino público, pagos com os nossos impostos.

O maior mérito da END está no envolvimento dos diversos setores da Nação, particularmente do Poder Executivo, nas ações estratégicas que a põem em execução. Estas são ações voltadas para retomar o desenvolvimento tecnológico com autonomia, ressuscitar a indústria nacional de defesa, implantar o planejamento da mobilização nacional, ampliar a participação do meio acadêmico e de institutos afins nos assuntos de defesa e, ainda, para compatibilizar a infraestrutura do País com as necessidades da defesa nacional.

Para ser coerente com a PDN, a END não caracteriza claramente as ameaças prioritárias ao Brasil, por considerá-las, equivocadamente, difusas. As que realmente comprometem a soberania e integridade territorial se referem à Amazônia e ao Atlântico Sul. O único ator que pode concretizá-las são os EUA, isoladamente ou numa coalizão, sendo perfeitamente conhecidos o vulto do poder militar e a forma como é empregado, ameaçando de bloqueio, ocupação ou bombardeio áreas sensíveis da infraestrutura, a fim de pressionar o governo a aceitar imposições em qualquer ponto do território. Não há necessidade de dar nome aos atores, que podem ser designados como "uma potência ou uma coalizão de potências". Se a Nação não se conscientizar da magnitude da ameaça, não vai apoiar o emprego dos recursos para a redução do desnível de poder que nos afeta a segurança.

Há uma estratégia internacional tácita, de longo prazo e por meio de ações sucessivas, para impor a soberania compartilhada na Amazônia, que se intensificou no início dos anos 90, por pressões em todos os campos do poder. Segue um princípio de Sun Tzu que diz ser "a glória suprema vencer o inimigo sem lutar". Alguém duvida que, assim como os recursos e a posição geoestratégica do Oriente Médio, da Ásia Central e dos Bálcãs atraem as grandes potências, a Amazônia não esteja sendo alvo da projeção de poder daquelas nações?

A Nação não se pode iludir e crer que, ante essa ameaça, baste o simples aumento do poder militar. Só a ocupação racional com preservação, o desenvolvimento sustentável, a integração do indígena e a integração da região ao País neutralizarão tal ameaça, e isso não depende apenas do poder militar.

O maior desafio à END não foi sua elaboração, mas será a implantação, pois é muito comum estratégias brilhantemente planejadas morrerem em gavetas, ao não serem executadas ou perderem a impulsão por falta de apoio político. Estratégias de defesa visam a fazer frente a conflitos que podem ocorrer em médio ou longo prazos. Países sem visão de futuro, em que as lideranças só têm compromisso com a próxima eleição, e não com a nação, desistem de projetos que não rendam votos. Este é o retrato do Brasil a partir dos anos 90, portanto, temo pelo sucesso da END. O governo não estabeleceu uma parcela fixa do Orçamento capaz de viabilizar o reaparelhamento das Forças Armadas e, se não o fizer, a END será mais uma iniciativa "pra inglês ver".

Por outro lado, um princípio fundamental à boa condução do Estado é o da coerência entre suas políticas e estratégias e as ações que efetivamente adota.

Não é o que ocorre no Brasil no que concerne à Amazônia.

Ao mesmo tempo que se estabelecem políticas e estratégias onde a região é destacada como prioridade de defesa, e enquanto algumas lideranças bravateiam, no estilo populista, dizendo "a Amazônia é nossa", as ações dos governos comprometem a soberania e a integridade territorial na região.

O Brasil curva-se a pressões internacionais na demarcação de terras indígenas (TIs), verdadeiros "cavalos de Troia". O País tem, hoje, soberania apenas nominal sobre algumas dessas TIs, pois as decisões que toma neste tema camuflam interesses estrangeiros que nos são impostos. O Brasil perdeu a altivez e a coragem para enfrentar conflitos no campo político e estratégico e aceita imposições, com prejuízo futuro da segurança nacional, em troca de interesses imediatos, particularmente nas negociações relacionadas com o comércio exterior. Em nossa liderança pontificam administradores, economistas e comerciantes, mas faltam estadistas. Eis, então, a nossa grande vulnerabilidade, impossível de ser compensada apenas com o poder militar, por mais forte que seja.

O desfecho da demarcação da TI Raposa-Serra do Sol no STF, que poderia contrariar interesses alienígenas, revelou a ingerência internacional nas diversas ações do príncipe herdeiro da coroa britânica, de ONGs europeias e da ONU, que enviou um representante, coincidentemente, na semana em que o ministro relator daria seu parecer sobre a questão.

As gerações futuras pagarão o preço pela omissão da sociedade, que não cobra uma postura patriótica e altiva de suas lideranças. Quem conhece a história da China no século 19 deve se preocupar com o que pode acontecer ao Brasil. Quem não a conhece pergunte à Grã-Bretanha, aos EUA, à Alemanha, ao Japão e a outras potências o que fizeram àquele país para impor seus interesses.

Luiz Eduardo Rocha Paiva, general da reserva, foi comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (2004-2006)


quinta-feira, fevereiro 05, 2009

OS 44 PRESIDENTES DOS ESTADOS UNIDOS DA AMERICA

Internet é mais consumida do que TV na Espanha

A internet foi a mídia mais importante na Espanha em 2008. Isso porque o tempo em que as pessoas passam conectadas à web já é, naquele país, maior do que o tempo desprendido a assistir televisão.
A conclusão é de um estudo feito pela
Mediascope. Segundo a pesquisa, o internauta espanhol fica conectado por uma média semanal de 12,1 horas, contra 11,7 horas dedicadas à televisão. O tempo que a população espanhola fica na frente de um computador aumenta em 20% desde 2004 e a quantidade de internautas que se conecta diariamente à web (cerca de 56% do total) cresceu 5% desde o ano passado. A atividade que os espanhóis mais fazem na Internet é envio de e-mails, seguida por buscas e redes sociais. Na Europa, as buscas ocupam o primeiro lugar, seguidas por e-mail e sites de conteúdo gerado pelos próprios internautas.

Obrigado, Senhor Madoff!

Um novo escândalo assola as finanças. Os franceses BNP Paribas e Natixis, o espanhol Santander, o japonês Nomura, o suíço Union Bancaire Privée... Em todos os continentes, os banqueiros mais reputados deixaram-se durante anos, talvez décadas, serem levados no conto do vigário por quem desde já parece ser um dos grandes escroques de Wall Street: Bernard Madoff (foto), gerente de um fundo de investimentos, que admitiu ter feito perder a seus clientes a bagatela de US$50 bilhões. Que um empresário abuse da confiança que inspira não é novidade. Que os maiores nomes das finanças mundiais se deixem enganar como simples leigos, vítimas nessas últimas semanas de cenário comparável, é nitidamente mais preocupante. Isso comprova que eles aplicam dinheiro de seus clientes sem se preocupar com a maneira de como serão realizados os ganhos.

ENTREVISTA DE PAUL KRUGMAN

Trechos de entrevista ao Clarin-AR

- Em comparação com outras crises, quão grande é a presente crise?
PK: É enorme! E estou preocupado. Os economistas, que pensam que é um fenômeno interessante, são como um médico que diz “como é lindo o tumor”. Sem uma adequada política econômica pode ser pior do que a dos 30.

- Em que esta crise se diferencia da dos anos 30?
PK: Temos mais conhecimento sobre economia, mas principalmente estamos mais bem preparados. Não há ditaduras nacionalistas ou fascistas e a coordenação e o entendimento democrático estão consolidados.

- Qual a origem desta crise?
PK: Um sistema financeiro paralelo, que resulta de negócios do banco, mas sem os regulamentos do tradicional “banco de mármore”. Culpo-me de não ter detectado em tempo e hoje vemos uma corrida bancária, mas, em lugar de aparecerem pessoas fazendo fila nas ruas, estão fazendo click com o mouse.

- Qual é hoje o pior cenário para os países desenvolvidos?
PK: No curto prazo, poderíamos ver a repetição do cenário japonês dos anos 90: baixas taxas de juros, investimento nulo, deflação e estagnação. Já vimos que, nesses casos, baixar a taxa de juros não é suficiente, a política monetária não tem efeito.

- Que medidas de política são as adequadas?
PK: Muitos países atuam de maneira adequada com programas fiscais expansivos. Mas não está claro sobre como investir de modo mais eficiente o dinheiro do contribuinte. Na verdade, dado o nível de comércio, importante é que as medidas sejam coordenadas, pois, do contrário, corre-se o risco de que ninguém queira adotá-las. Se sobem os gastos na França, uma grande parte de tais gastos se destina a produtos alemães. Os franceses terão dúvidas de tomar essas medidas, a menos que os alemães façam o mesmo. E os alemães não estão cooperando.

- Porém, você não se preocupa com os elevados déficits que detém os EUA, não lhe preocupam os déficits causados por estes programas? E por quanto tempo temos de levá-los adiante?
PK: Nos EUA, se fala em destinar cerca de 4% do PIB este ano e de 7% a 8% do próximo. Goldman Sachs prevê que o PIB poderia cair cerca de 9%. 4%, assim, é um preço barato. Se o desemprego chegar aos dois dígitos, 12 milhões de norte-americanos ficarão abaixo da linha de pobreza e 10 milhões sem cobertura médica.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009