sexta-feira, agosto 29, 2008

Hilário Eleitoral Gratuito!

Quem avisa, amigo é!

Dia 8 de agosto, 40 anos atrás, Nixon (foto) "renunciava" à presidência dos EUA em função do escândalo no edifício Watergate - onde estava a sede do Partido Democrata - que havia sido espionada por comando da direção do Partido Republicano. Nixon nada sabia. Mas depois que o escândalo estourou e ganhou a partir do Washington Post a cobertura da imprensa mundial e uma CPI no Congresso dos EUA, Nixon por menos de um mês, orientou as não-ações do FBI, o análogo a nossa Polícia Federal. Esse ato foi o nó górdio que provocou sua "renúncia”: usar um órgão público como o FBI para dar cobertura àquelas ações de espionagem política. O caso Watergate foi identificado no dia 17 de junho de 1969. Nixon saiu seis anos depois. O Mensalão foi identificado em junho de 2005. O caso já passou pela CPI no Congresso. Está no STF com denúncia feita. Passaram-se 3 anos. Metade ainda do interregno do caso Watergate nos EUA.

A Reconstrução dos Partidos Políticos

Trechos do artigo do politólogo e historiador argentino - Natálio Botana - no La Nacion de 07/08/08! Serve para lá. Serve para cá!

1. David Hume, ainda no século XVIII, observou que o destino das formas políticas se cifrava em maior ou menor grau na força da opinião. Numa democracia, essa opinião revelada diariamente por sondagens de opinião adquire seu máximo valor: é indispensável para apoiar e é ameaçante para questionar. Por isso, as lideranças sobem e baixam num escrutínio constante que parece não ter fim.

2. O fator mais importante para moderar os excessos dessa volatilidade são as instituições do regime representativo e, por conseguinte, os partidos políticos. No campo mais amplo do poder social há, por certo, muitos exemplos de mediação, mas, nos processos políticos chega um momento em que essas mediações devem transferir-se para o terreno onde sobressai a autoridade pública e no qual se votam e se instauram as leis que comprometem a sociedade em seu conjunto. A mediação política tem o apetite de universalidade, mas, ao contrário, a mediação social se reduz à necessidade de expressão da particularidade dos interesses. São as duas caras do pluralismo.

3. Devido a esta inevitável conexão entre o que é comum e o que é particular, a mediação política requer: a) estabilidade; b) organização; e c) continuidade. Estes três atributos são os grandes ausentes no sistema político argentino e, em conseqüência, nossos partidos sofrem uma constante perda de legitimidade. Trata-se de uma espécie de democracia cariocinética, que, diante de cada crise e de cada conflito, adiciona mais fragmentação e mais confusão ao potencial eleitorado. Este é um legado que vem de longe e que ainda não cessou de corroer o princípio da representação política.

4. Impõe-se colocar em marcha a reconstrução dos partidos. Dizemos reconstrução com todo o valor arquitetônico que tem esta palavra: reconstruir as regras de participação cidadã nos partidos, reconstruir o diálogo entre grupos pertencentes a um antigo partido (isso é vital para os partidos mais antigos); reconstruir, sobretudo, a ética que exige um mínimo de lealdade dentro destas organizações.

5. É uma corrida contra a degradação do que vem em sentido contrário, que, não obstante, deixa em suspenso o inadiável trabalho de forjar uma alternativa. Desconstruir, sim, mas qual será de aqui em diante o conteúdo substantivo de uma desejável mudança para a oposição, diga de programar-se e de ser apresentada como uma alternativa crível? Até novo aviso, estes projetos são meramente virtuais.

6. Se consideramos valiosa esta praxe, são necessários dois requisitos complementares aos três atributos que mencionamos mais acima. O primeiro consiste no respeito a umas regras que jamais deveriam subordinar-se ao apetite das lideranças. Hoje, alguns partidos reforçam com remendos, itinerários personalistas, mais do que trajetórias institucionais. Esta experiência nos ensina que, nada na democracia esteja adquirido definitivamente.

7. Uma prudente combinação da ética da vitória com a ética da derrota nos partidos políticos pode ajudar a produzir melhores lideranças e manter, enquanto isso, a estabilidade das referidas organizações. É um critério para levar-se em conta. Todos querem ganhar, mas poucos sabem perder. Se não for assim, se difunde a mania de fazer uma cozinha à parte. Poderá ser reconstruída algum dia esta disciplina espontânea nos partidos? A pergunta fica aberta, tão aberta quanto a soma dos fracassos que, a este respeito, acumulamos.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Um presente aos meus leitores - ALL THE WAY

"Macbeth em democracia"

Trechos do artigo do professor da U. de Buenos Aires, Eduardo Fidanza (foto) no La Nacion de 6/8/8. Que os presidentes sul-americanos - alguns - leiam e releiam!

1. O déspota das tragédias aborrece a ciência política. É alheio às táticas e às estratégias que a ciência política constrói, ou aos cálculos que ela realiza para prever a conseqüência das decisões. O poder não é para o déspota um atributo contingente, mas um sinal natural de sua superioridade ou do ditame dos deuses. Trata-se de uma miragem sedutora, que pode arrastar multidões.

2. A alienação não se nota enquanto o êxito está em escalada. Nesse caminho, forja e reforça o vínculo ilusório que o liga ao poder. É empurrado por um estimulante vento favorável, os sorrisos e os aplausos, os constantes triunfos diante de adversários que caem destruídos ou fogem. O povo se identifica com ele, ao percebê-lo como um eleito. O líder se oferece e abre as mãos, que destilam bens e promessas de felicidade para seus seguidores. Ao final da marcha triunfal, o envolve a certeza: as fadas não o enganaram, cumpriram-se as profecias, ninguém pode fazer-lhe sombra, a história cai de joelhos diante dele.

3. Mas o déspota desconfia até mesmo de sua sombra. O poder absoluto gera vazio e angústia. Diante da incerteza, dois atores acorrem em sua ajuda. O tirano os exige com a avidez de adicto. Um é o cortesão, cuja adulação logrará adormecê-lo, sem dar-lhe paz. O outro é o oráculo. Pitonisas e adivinhadores lhe confirmarão, em linguagem cifrada, sua sorte de eleito.

4. O tirano é um jogador empedernido, irremediável: dobrará a aposta uma e outra vez. Não escutará razões, porque ninguém está em condições de oferecê-las; não fará cálculos porque acredita ter ganhado a batalha, antes de travá-la. Detendo o poder, propõe-se a tirar de cena qualquer rival capaz de lançar sombra sobre ele. Para lograr o desígnio, inventa conspirações, atribui culpas a pretensos inimigos, coloca uns contra os outros e procura eliminá-los. Não pode descansar. Teme, no íntimo, ser atraiçoado, tal como ele atraiçoa, despojado como ele despoja. Mas algo ou alguém sempre escapa de seu controle.

5. A tragédia política nunca será uma analogia da democracia moderna. As regras desta última proíbem a morte violenta. As adagas nos sorrisos dos homens são simbólicas e suas desgraças são com freqüências reversíveis. “Hoje, uma promessa, amanhã, uma traição” não conduz a rios de sangue. Na democracia, mais do que tragédias, se representam psicodramas, onde se cria um “como se” nele, em que os homens levam seu desejo de matar até ao limite, evitando consumá-lo.

6. Macbeth não está louco, como muitos acreditam. Sua conduta se regula por uma racionalidade sem matizes, cujas opções são tudo ou nada. A democracia pode ser drama ou comédia, psicodrama ou peça jocosa, nunca um fato irreparável ou uma guerra perpetua. Por isso, se impõe fixar limites, antes que seja tarde, aos líderes que desconhecem o comedimento.

O presidente dois em um!

O regime presidencialista dos EUA tem uma característica que o aproxima do parlamentarismo francês. Na França há um presidente que trata das questões de segurança e da política externa. E um primeiro-ministro que trata do governo.
Nos EUA há também dois presidentes. Só que incorporados em uma só pessoa. Há um presidente "para dentro" que exerce a função num regime quase-parlamentar. Não tem iniciativa de leis. O Congresso além de decidir sem limites, sobre o orçamento, ainda tem uma comissão mista que empenha as despesas, das quais o executivo é mero executor. Os lobbies são feitos sobre o Congresso e são oficiais. O Congresso é o ator relevante para dentro.

Mas há um segundo presidente. Aquele que coordena pessoalmente a secretaria (ministério de relações exteriores) de Estado, a secretaria de Defesa, o Pentágono, o Comando do Estado Maior das Forças Armadas, a CIA... Este é um presidente imperial, cujo poder é ilimitado e sempre que alega e demonstra questões de segurança nacional, o Congresso o acompanha em suas decisões e iniciativas de leis, de qualquer tipo.

O eleitor norte-americano vota em um voto, nos dois. Mas nunca - ou quase - vota em um presidente - que desconfie - que possa não exercer com verticalidade e autonomia a presidência imperial. O eleitor - apesar da admiração pelo personagem que cumpre - não quer um novo Carter na presidência.

Se a eleição fosse do presidente "para dentro" Obama estava eleito. Mas a decisão do eleitor sobre o presidente imperial enfraquece a candidatura de Obama e fortalece - e muito - a candidatura de McCain. Os contrastes são evidentes. Essa é uma das razões que explicam o aparente paradoxo entre o sucesso de Obama em Berlim e o empate nas pesquisas nos EUA, onde vinha liderando com seis a oito pontos, dias antes.

quarta-feira, agosto 27, 2008

A mais bela ultrapassagem de todos os tempos!

Kennedy e o Nordeste

Encontrei essa verdadeira pérola jornalística-histórica sobre o interesse de Kennedy, então presidente dos EUA, com uma série de influências, conseqüências e outros interesses que não somente o de ajudar o Nordeste brasileiro a se desenvolver. Como o artigo é muito grande, pincelo aqui com trechos intrigantes, meu objetivo é levar os leitores ao blog onde ele está postado na íntegra. Vale a leitura, muito instrutiva e reveladora.
Vamos aos trechos, no final você encontar o link para acessar o artigo completo.

O plano de Kennedy para desenvolver o Nordeste

por Vandeck Santiago
A surpreendente história de como, quando e por que a nação mais poderosa do planeta interveio na região mais pobre do hemisfério.
...Quando os americanos estavam chegando
Em outubro de 1961 o economista e diplomata norte-americano Merwin Bohan desembarcou no Recife com uma missão do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy....
O acordo - Menos de um ano depois daquela frase, em 13 de abril de 1962, Kennedy e o presidente do Brasil, João Goulart, assinaram em Washington o Northeast Agreement ("Acordo do Nordeste"). O único acordo assinado pelos EUA, na época, destinado a uma região de um País. Previa um investimento de US$ 131 milhões na região, num prazo de dois anos (feita a atualização para os dias de hoje, seria o equivalente a US$ 650 milhões)...
O Nordeste, segundo a CIA
O Nordeste era uma região "potencialmente explosiva", os comunistas e seus simpatizantes estavam a ponto de ganhar as eleições e "assumir o controle político" no Recife e em Pernambuco e o "aumento de 30% nos gêneros de primeira necessidade" favoreciam a agitação na região. Para completar, havia líderes "pró-comunistas" como Francisco Julião e Miguel Arraes, em ascensão eleitoral: havia técnicos como Celso Furtado, um profissional "respeitável" mas que tivera ligações com "o movimento comunista" no passado e mantinha no presente relações com a "extrema esquerda e nacionalistas” , como se não bastasse, havia ainda a seca, que levava os nordestinos a saquear armazéns. Tudo isso numa área que, em pobreza, era "comparável ao Haiti".
Este era o Nordeste descrito em relatórios produzidos pela CIA em 1961, 1962 e 1963 - todos eles lidos pela reportagem do DIARIO. Estão liberados para consulta pública, mas até agora nunca haviam sido pesquisados para um trabalho específico sobre o Nordeste. Com relação a questões nacionais, o tom dispensado a João Goulart é sempre hostil. O presidente brasileiro, que acabou derrubado pelo golpe militar de março de 1964, não passava de "um oportunista", conforme os relatórios...
Deu - várias vezes - no New York Times
Para o leitor médio americano dos anos 60, o Brasil era um lugar incrivelmente distante onde se falava mañana e se fazia a siesta. Mas entre outubro de 1960 e abril de 1964 outras palavras foram associadas à imagem de país distante. Palavras como "Nordeste do Brasil", "Sudene", "Ligas Camponesas", "Recife", "Miguel Arraes" e "região brasileira vítima da seca" entraram em avalanche para as páginas da imprensa internacional. Vez por outra, havia menções até ao "padre Cícero" e "Lampião". Os principais jornais e revistas dos Estados Unidos, como o The New York Times e a Newsweek, e da Europa, como o Le Monde (França) e a Der Spiegel, da Alemanha, mandavam para lá repórteres e fotógrafos....
Good morning, Recife
Nunca os Estados Unidos estiveram tão próximos do Recife quanto naqueles agitados anos do governo Kennedy. E também, naqueles agitados anos, nenhuma outra região latino-americana recebeu tantos norte-americanos quanto o Nordeste. E ainda, em tempo algum, pernambucanos e nordestinos receberam tantos convites para visitar os Estados Unidos - com tudo pago, of course - quanto naqueles agitados anos. Era tamanha a presença norte-americana que ninguém se surpreendia ao abrir o jornal e ver uma cena inusitada em qualquer época: um almirante dos EUA, todo sorrisos, com um mal colocado chapéu de cangaceiro na cabeça. Pois aconteceu. Saiu na primeira página do Diario de 10 de maio de 1963. O almirante chamava-se Tyree Jr., comandava as forças navais dos EUA no Atlântico Sul e pôs o chapéu de cangaceiro durante festa para recepcioná-lo no Clube Internacional.
Toda esta história começou a partir do interesse do presidente Kennedy pela região. Vieram depois o "Acordo do Nordeste", reportagens no The New York Times, fotos de manifestações das Ligas Camponesas em tudo que era jornal e revista (aquelas cenas de camponeses com as foices pra cima e coisa e tal), dólares, o temor e a ansiedade de um novo foco de conflitos no mundo - e pronto, o Nordeste entrou na rota internacional, como uma escala obrigatória...
O primeiro mensalão. Kennedy sabia?
O maior envolvimento dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil aconteceu nas eleições de 1962. Milhões de dólares foram utilizados na campanha de 869 políticos brasileiros - 600 candidatos a deputado estadual, 250 a federal, 11 a senador e 8 a governador, todos eles considerados pró-Estados Unidos, hostis ao comunismo e contrários ao governo de João Goulart. Houve uma CPI para investigar o caso, mas ninguém foi punido...
O envolvimento dos EUA nas eleições brasileiras de 1962 foi debatida em 23 de junho daquele ano, numa reunião entre o presidente John Kennedy, o assessor Richard Goodwin e Gordon...
...Desde 1940 os presidentes americanos tinham o hábito de gravar as conversas;...
...Há partes originalmente suprimidas do diálogo, por serem consideradas ainda impróprias para divulgação. Veja alguns trechos abaixo:
Kennedy: Os comunistas são fortes [no Brasil]?
[Lincoln] Gordon: Como partido, são fracos.
(...)
Kennnedy: Mas agora eles ganharam boa parte da esquerda?
Gordon: Boa parte. Eles hoje ocupam postos chave e estão-se organizando...
Kennedy: Goulart lhes dá proteção?
Gordon: Ele os protege tanto no governo quanto nos sindicatos.
(...)
Kennedy: Os moderados estão muito desanimados no Brasil?
Gordon: Não a ponto de desistir. Estão muito descontentes. (...) Aluízio Alves [governador do Rio Grande do Norte] quer organizar um centro forte, levemente de esquerda. Acho que devemos apoiar totalmente a idéia.
[nesta parte, seis segundos da conversa são suprimidos, considerados "sigilosos"]
Gordon: (...) Não podemos mais ser complacentes. Creio que devemos fazer mais e provavelmente teremos de fazer mais com um pouco menos de preocupação sobre possíveis desperdícios e perda do controle [da situação]. (...) Há uma organização, o Ipes, por exemplo, [inaudível] progressista, que precisa de ajuda financeira; ela tem [inaudível] apoio e eu acho que devíamos ajudá-la.
[Richard] Goodwin: Acho que as eleições podem ser decisivas. O Linc [Gordon] as compara às eleições italianas de 1948
Kennedy: Eu sei. Quanto é que vamos investir nisso?
Gordon: Nesse caso, creio que alguns milhões de dólares.
[aqui foram cortados sete segundos de diálogo também considerados "sigilosos"]
Kennedy: É muito dinheiro. Sabe como é, aqui, numa campanha presidencial, gasta-se mais ou menos 12 [milhões de dólares]. E [com] nossos custos... já são US$ 8 milhões. É muito dinheiro para uma eleição.
Gordon: Exato.
Kennedy: (inaudível)
Kennedy [dirigindo-se a Gordon]: Bem, isso já está sendo gasto no momento? Você já está levando isso adiante?
[39 segundos "sigilosos" são suprimidos nesta parte]
(...)
Gordon: Acho que há algo que podemos fazer em relação a Goulart como parte de uma estratégia geral. Gostaria de alertar o sr. sobre a possibilidade de uma ação militar. Há uma grande probabilidade de isso acontecer".
...
Celso Furtado
"Tenho a impressão de que o Nordeste, onde eu estava na época, foi a região mais prejudicada pelo golpe. O Nordeste foi surpreendido com uma política em andamento, um movimento social, através das Ligas Camponesas, da Sudene e da Igreja Católica, que apontavam para uma outra direção. Tudo isso foi destruído.
Leia tudo no Mistura Digital, clicando aqui.

terça-feira, agosto 26, 2008

VEJA O GRAFICO BOVESPA

Cristina precisando de ajuda!

A presidenta Cristina Kirchner vem enfrentando uma curva fortemente descendente em sua popularidade. O mais importante segmento empresarial argentino - o agronegócio - durante os últimos 3 meses fez fortes protestos contra a criação de uma retenção móvel aos exportadores - na prática um aumento de tributação. A oposição exigiu que se autorizasse por lei esta retenção. O governo perdeu no Congresso - venceu na Câmara e perdeu no Senado - apesar do enorme controle político que exerce sobre os parlamentares.
Num quadro desses, o presidente de outro país, no caso o Brasil, se desloca a Argentina para dar força e prestigiar a presidenta daquele país. E mais, leva uma comitiva de 230 empresários, o que na prática é fazer o contraponto ao empresariado local. Ou seja: na medida em que a impopularidade da presidenta cresce e que a oposição se fortalece, Lula vai a Buenos Aires dar uma mãozinha a ela contra a oposição. Hoje chega o presidente Chávez com o mesmo propósito.

Isso já havia ocorrido pelo menos, duas vezes. Uma na Venezuela, quando os presidentes do Brasil, Argentina, Bolívia e Equador foram dar uma força a Chávez num momento de desgaste. Outra, mais recente, com o presidente da Bolívia - Morales - que perdeu seqüencialmente 4 plebiscitos para a oposição em 4 estados. Lá foram Lula, Chávez, Cristina e Rafael, dar uma força a Morales e dizer que estão com ele contra a oposição política boliviana e não abrem.

O nome disso é INTERVENIÊNCIA NOS ASSUNTOS INTERNOS DE OUTROS PAÍSES. Imaginem se no desgaste anterior de Sarkozy (que já vem se recuperando) e no desgaste atual de Gordon Brown, os chefes de governo europeus resolvessem tomar um vinho em Paris e um Chá, em Londres como forma de dar uma mãozinha a eles contra a oposição em seus países? E ajudar a reduzir a impopularidade de ambos. Isso seria considerado um escândalo internacional e desrespeito às instituições políticas. Aqui na nossa América Latina dão um chega para lá nas instituições e vale tudo!

sábado, agosto 23, 2008

Sexo no Futuro?

Brasil Olímpico

Diante do fracasso anunciado na participação brasileira em Pequim, com poucas medalhas, indagamos sem rodeios: onde está a política de patrocínio? O que fazem os nossos governantes para estimular a iniciativa privada a investir no esporte? As lágrimas e o pedido de desculpas de Diego Hypólito, além de nos emocionar, deixaram ainda mais patente, para todos os que acompanham os jogos, o esforço magistral e a demonstração de competência dos nossos atletas; e por outro, a nítida falta de incentivo ao esporte nacional.
Essas olimpíadas, sediadas na China, enchem os nossos olhos com a tecnologia e a perfeição das imagens, mas também devem nos levar a um exercício de profunda reflexão sobre os rumos do esporte na "pátria de chuteiras". Quem deve pedir desculpas, o Diego ou os governantes do Brasil? Os governos do nosso País conferem ao esporte a necessária importância, ou políticos brasileiros apenas fazem discursos oportunistas, em momentos especiais, para se valerem dos feitos históricos dos nossos esportistas?

A responsabilidade maior pelo desperdício do potencial dos atletas é do Poder Executivo. Posso afirmar isso com toda isenção e experiência própria. Como governador do Paraná, tive a chance de implementar políticas públicas para assegurar um bom desempenho aos que se dedicavam e se destacavam na prática saudável dos esportes.

Não se trata de um auto-elogio, até porque não agi sozinho, mas na minha passagem pelo Executivo estadual criei a Secretaria de Esporte e a instrumentalizei para a execução de vários e bem sucedidos programas, coordenados pelo então Secretário Edson Gradia. Uma loteria, a Lotopar, foi criada especialmente para arrecadar recursos e custear o incentivo ao esporte. Cito como exemplos o Paraná Olímpico e o Frutos da Terra. O primeiro patrocinava atletas de destaque com recursos do Banco do Estado do Paraná e o Frutos da Terra se destinava a identificar jovens com potencial esportivo nas escolas paranaenses. Os mais talentosos eram indicados por professores de educação física e, depois de recebidos e homenageados com pompa pelo governador, passavam a receber salário e material esportivo para que pudessem estudar e treinar.

Os resultados alcançados foram reconhecidamente positivos, como atestam inclusive representantes da Academia. Dois professores, José Luiz e Lena, defenderam tese de doutorado sobre esporte na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e ficaram surpresos com o número de atletas paranaenses competindo internacionalmente. Vinte e seis deles participavam, à época, das Olimpíadas de Atenas e os professores investigaram e descobriram que o número expressivo de atletas era conseqüência dos programas desenvolvidos no nosso governo. A imprensa nacional, à época, também investigou e chegou à mesma conclusão. Ressalto que foram iniciativas que lapidavam os atletas com criatividade e recursos oriundos da Lotopar e do Banco do Estado. O empurrão nos atletas gerava conquistas e não onerava os cofres públicos do Paraná.

A performance dos brasileiros nas Olimpíadas de Pequim nos leva a clamar pela urgente reorganização do esporte nacional. Aliás, assumi o compromisso de, a partir do próximo ano, empreender esforços para criar uma subcomissão de esportes na Comissão de Educação do Senado. O objetivo é promover o debate permanente com a participação de especialistas para motivar o Poder Executivo a adotar providências e programas, convocando também a iniciativa privada para desenvolver uma política de desportos capaz de explorar adequadamente as potencialidades brasileiras.

A nossa crítica não se dirige a nenhum dos competidores. Direciono a cobrança às autoridades constituídas do País, notadamente aos que estão investidos de uma função executiva, seja no Município, no Estado ou na União. Foi o descaso dos atuais governantes que relegou nossos atletas à própria sorte.

Devemos nos mobilizar para que nas próximas Olimpíadas o Brasil Olímpico possa fazer jus à dedicação, disciplina, aplicação e persistência de nossos atletas. Permito-me exibir o placar final: medalha de ouro aos atletas brasileiros que competiram em Pequim e cartão vermelho aos nossos governantes.
Senador Alvaro Dias - 2º Vice Presidente do Senado, vice-líder do PSDB

sexta-feira, agosto 22, 2008

Quem será o Vice de Obama?

Tim Kaine, de 50 anos, governador da Virgínia (leste) desde 2005: esse católico praticante, ex-missionário jesuíta em Honduras, foi um advogado especializado na defesa dos direitos civis. Progressista renomado, conseguiu se impor em um estado considerado conservador, descartando algumas de suas próprias convicções. Pessoalmente contrário à pena capital, não se opôs à execução dos condenados à morte em seu estado.


Evan Bayh, de 52, senador por Indiana (norte), desde 1998: fez campanha para Hillary Clinton nas primárias democratas. Entre 1988 e 1996, Bayh foi governador de Indiana, um estado fortemente republicano. No cargo, alcançou notoriedade ao equilibrar o orçamento e baixar os impostos, além de permitir a criação de cerca de 350.000 empregos. Em função disso, Bayh continua extremamente popular em seu estado.

Joe Biden, de 65, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado - é um peso pesado da vida política americana. Está no Senado, em mandatos seguidos, desde 1972, onde representa o estado de Delaware (leste). Pré-candidato na corrida democrata de 2008, rapidamente aderiu às fileiras de Barack Obama e se tornou um de seus principais conselheiros em matéria de Política Externa.

Chris Dodd, de 64, presidente da Comissão Bancária do Senado, onde está desde 1980, pelo estado de Connecticut (nordeste) - conhece todos os meandros da vida política de Washington. Também foi pré-candidato, sem sucesso, na corrida deste ano.


Chuck Hagel, de 61, ex-heroí da Guerra do Vietnã e especialista em questões de Segurança Nacional - esse senador por Nebraska (centro) é um dos raros republicanos contrários à guerra no Iraque. Acompanhou Obama durante sua recente viagem a esse país. Conservador, ele é contra o direito ao aborto e favorável às orações nas escolas públicas.

Kathleen Sebelius, de 60, é governadora do Kansas (centro) desde 2002 - filha de um ex-governador de Ohio (norte), ela se impôs em um dos estados mais conservadores dos EUA e, hoje, é uma das governadoras mais populares do país. É considerada uma das raras mulheres em condições de brigar pela Casa Branca em 2012, ou 2016.



Chuva de marketing!

De acordo com estudo “Projeto de Publicidade”, da Universidade de Wisconsin, os dois candidatos à Presidência da República dos EUA já ultrapassaram os 100.000 spots publicitários entre 03/06 (fim das primárias) e 26/07 – contra o recorde de 77.000 ao longo de todo o ano de 2004, quando das anteriores eleições presidenciais. Segundo a mesma fonte, John McCain gastou pouco mais de US$ 21 milhões na publicidade por televisão, contra US$ 27 milhões por Barack Obama. Mais de 90% da publicidade democrata é positiva, concentrando-se em Obama e não mencionando McCain. Já 1/3 da publicidade republicana é negativa, atacando diretamente Obama.
A estratégia dos dois candidatos é diferente. John McCain se concentra mais particularmente sobre Ohio e nos três Estados onde Barack Obama tem no momento ligeira vantagem (Michigan, Pennsylvania e Wisconsin). Obama difundiu publicidade em pelo menos cinco Estados, onde George Bush venceu em 2000 e 2004, prosseguindo sua tentativa de conquistar bastiões republicanos. Porém, The Caucus, blog político do New York Times, considera impossível saber se Obama imagina ter uma chance de vencer as eleições naqueles Estados, ou se ele pretende apenas forçar os republicanos a gastar mais dinheiro possível.

O CASO DA MÁFIA DOS TRANSPLANTES!

Com a sofisticação dos sistemas de informática para controle de "filas", (concursos, pagamentos, caixa bancário, recebimentos, contabilidade online, controle de inventários...), como é possível que no caso dos transplantes não se tivesse um sistema simples desses operando?
Como é possível que durante 4 anos do governo Lula - 2003-2007 - o ministério da saúde não tivesse detectado esses desvios? Ninguém tinha um acompanhamento das filas? Não havia auditoria periódica dos procedimentos?

O andar de baixo está denunciado e alguns presos. E o andar de cima? Ninguém será responsabilizado por inépcia ou incompetência? Continuarão mandando?

Brilhante carreira na Saúde Federal do PT/PMDB: Máfia dos Vampiros, Sanguessugas, Máfia dos Transplantes. O que virá agora?

O retrato do Brasil de Lula!

quarta-feira, agosto 20, 2008

YES, NÓS SOMOS DE ESQUERDA

Em poucas palavras Jean-François Revel, no prefácio da magistral obra de Carlos Rangel, Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, mostrou a trajetória de séculos da América Latina: "A história da América Latina prolonga a contradição que lhe deu origem. Oscila entre as falsas revoluções e as ditaduras anárquicas, a corrupção e a miséria, a ineficácia e o nacionalismo exacerbado".
Sem dúvida, essa apropriada análise feita por Revel, em 1976, não se alterou em essência. E é uma realidade da qual o Brasil, com algumas nuanças e diferenças, também faz parte.
Essa história de fracassos e frustrações é confrontada com uma humilhação adicional: o êxito quase indecente para os latino-americanos, dos Estados Unidos. Acrescente-se que a incapacidade para construir Estados democráticos modernos e economias prósperas conduziu a América Latina à tendências revolucionárias, muitas de cunho esquerdista e capitaneadas por lideranças populistas, que trouxeram a seus países mais fracasso e miséria.
Para citar alguns exemplos lembremo-nos da revolução mexicana de 1911, do socialismo peruano de 1969-1974, do justicialismo peronista que arruinou a então próspera Argentina e a mais marcante de todas: a revolução cubana que destruiu a economia da Ilha e a manteve sob o totalitarismo implacável de Fidel Castro. Este, porém, se tornou o símbolo da desforra contra os Estados Unidos e, apesar das atrocidades que cometeu contra os que ousaram contestar seus métodos soviéticos, encarnou o mito do "bom revolucionário", a figura que encanta o imaginário coletivo latino-americano, ou seja, uma espécie de D. Quixote do comunismo de terceiro-mundo, enquanto o sanguinário e psicopata Che Guevara é até hoje louvado um Cristo laico.
Fidel foi e é a desforra contra o sucesso insuportável dos Estados Unidos. Por isso, yes, orgulhosamente somos todos de esquerda, o que inclui o glorioso governo petista. O maldito império norte-americano só serve para fazermos cursos, turismo, tratamento de saúde, compras. Milhões de brasileiros se evadem para lá viver, trabalhar, ganhar em dólar, esse excremento do diabo. Mas não sabemos o porquê disto já que o Brasil de hoje, sob o governo de Lula da Silva, se converteu num paraíso onde o trabalho é abundante, só existem classes alta e média e a Saúde e a Educação são exemplos magníficos para o mundo.
No momento a grande sensação é a Olimpíada de Pequim. Afinal, a China encarna um império de esquerda. Á bem da verdade a China é capitalista na economia e comunista na política, modelo sonhado para nós pelo ex-revolucionário teórico, ex-ministro, ex-deputado e ainda todo-poderoso das sombras, José Dirceu. Quem sabe chegamos lá no terceiro mandado.
Portanto, não importa se a China viola direitos humanos com sua tradicional crueldade. Também não interessa se a China, com milhares de execuções por ano, é responsável por mais da metade das execuções que ocorrem em todo planeta, se deixa bebês do sexo feminino morrendo nas sarjetas, se tortura crianças desde bem pequenas para que se tornem os atletas perfeitos das Olimpíadas com um falso sorriso afivelado no rosto.
O trajeto da tocha olímpica pelo mundo foi marcado por protestos, especialmente com relação ao Tibete, o que para brasileiros deve ter soado como algo desconhecido ou sem interesse. Será que algum compatriota se perguntou diante da repressão chinesa aos protestos em prol do Tibete, pelo menos porque diabos aquilo estava acontecendo?
Poucos no Brasil devem saber que no Tibete o genocídio perpetrado pelos chineses foi marcado por requintes de atrocidade sinistra e as mortes violentas atingiram uma proporção mais numerosa do que em qualquer outro território do conjunto chinês. Segundo o Dalai-Lama, "os tibetanos não foram apenas fuzilados, foram espancados até a morte, crucificados, queimados vivos, afogados, mutilados, mortos por inanição, estrangulados, enforcados, cozidos em água fervente, enterrados vivos, esquartejados ou decapitados" (O Livro Negro do Comunismo). Também, centenas de milhares de tibetanos tornaram-se prisioneiros em campos de concentração e mais de 170.000 morreram no cativeiro. Além disto, houve o genocídio cultural com a destruição de templos e de seus manuscritos seculares, afrescos, estátuas, relíquias, tudo destroçados pela brutalidade chinesa.
Os protestos havidos durante a passagem da tocha, que no Brasil não veio, tentaram relembrar ao mundo esses horrores e os infelizes tibetanos que ainda vivem subjugados no seu país de neve e de deuses. Isto, porém, não nos interessa porque, yes, nós somos de esquerda. Sem medo de ser felizes fomos à Pequim e reeditamos nos jogos nossos fracassos e frustrações históricos expressos nos pífios resultados obtidos.
Maria Lucia Victor Barbosa (foto) é socióloga.

A surpreendente Natureza!

terça-feira, agosto 19, 2008

QUANDO E POR QUE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES NADA TEM A VER COM AS PESQUISAS DE INÍCIO DAS CAMPANHAS!

1. Os períodos anteriores às campanhas eleitorais vão informando ao eleitor sobre os políticos, suas posições e posturas, sobre os governos, as conjunturas que se sucedem... Especialmente nas pré-campanhas isso ocorre com intensidade. Por isso Paul Lazarsfeld dizia que era como uma foto (daquele tempo): impregnava a imagem no celulóide para ser revelada em campanha. Nos EUA a pré-campanha - as Primárias - é uma verdadeira eleição desde um ano antes das eleições. Nos regimes parlamentares - quase sempre binários - com os chefes de governo - atual e potencial de oposição - conhecidos, todo dia é dia de campanha, pois - teoricamente - os governos podem cair a qualquer momento e as eleições serem chamadas em 45 dias.

2. No Brasil além de nada disso ocorrer, ainda há uma legislação eleitoral que proíbe a pré-campanha e a reprime drasticamente com risco de inelegibilidade. Com isso, o eleitor chega ao processo eleitoral, 90 dias antes das eleições, com baixa informação. As exceções existem quando os candidatos são os que já foram governantes ou são para eleição. Exemplo: 2000 no Rio quando os candidatos eram um ex-governador, a vice-governadora, um ex-prefeito e o prefeito. Ou seja: o eleitor estava informado. Esse ano em SP da mesma forma. Os candidatos são um ex-governador/ex-prefeito, uma ex-prefeita, um ex-governador e o prefeito. O eleitor tem todas as informações sobre os atores políticos.

3. Mas quando isso não ocorre o eleitor entra em campanha muito mais desinformado do que deveria estar. Claro, pela ausência de pré-campanha, mas também porque a cobertura política é basicamente a cobertura dos governos. Sobre esses sim há informações. Os que já foram recentemente candidatos majoritários - a governador, prefeito e senador - têm seus nomes mais lembrados e em pesquisas antes da entrada da TV aparecem mais (o eleitor só entra em campo para valer uns 10 dias depois da TV).

4. Com isso as pesquisas pré-eleitorais entre nomes que nunca governaram têm uma taxa de decisão de voto (e não intenção) baixíssima e tudo pode acontecer. Este Blog já lembrou os casos do Rio-Capital onde a população tem o maior índice de escolaridade entre as capitais e é a que mais lê jornal. Em 1992 nessa época o Data-Folha dava a Cidinha 23%, ao Albano Reis 13%, Amaral Neto 8% (havia caído, pois começou com 17% e Cidinha com 35%), Benedita 8% e Cesar Maia 7%. O primeiro turno - dois meses depois - terminou com Bené com 24%, Cesar Maia 16% e Cidinha 14%.

5. Em 1996, nessa época, o Data-Folha dava a Sergio Cabral 26%, Miro Teixeira 21%, Chico Alencar 6% e Conde 4%. Dois meses depois foram 33% para Conde, 22% para Cabral e 18% para Chico Alencar (que foi prejudicado pelo fato dos institutos todos, só terem identificado seu crescimento com atraso) e Miro Teixeira 7%. Em 2006 na Capital, Cabral tinha 42%, Crivella 22% e Denise 12%. Dois meses depois - Denise 31%, Cabral 30% e Crivella 14%.

6. As restrições no Brasil exigem dos partidos a mudança da legislação eleitoral para criar regras de pré-campanha. Que os meios de comunicação antecipem o foco em pré-candidatos de fato, que os partidos antecipem suas decisões (tem feito através de pré-convenções) para que - em eleição sem governantes, de antes ou de agora, as pesquisas retratem mais a decisão do eleitor que uma intenção difusa. Os eleitores e políticos perdem confiança nos institutos (que não fazem mais do que retratar o nível de informação pré-existente) e que não são responsáveis por intenções de voto de mínima sustentabilidade.

7. Por isso no ultimo Data-Folha, na pesquisa espontânea 79% dos eleitores do Rio-Capital não marcaram um nome sequer dos 12 apresentados.

Trem das ilusões

"... moro em Jaçanã, se eu perder este trem..."
Trem das Onze - Adoniram Barbosa

A megalomania foi um traço presente e marcante desde a primeira gestão do presidente Lula. Os arroubos retóricos dos improvisos irrefletidos espalharam ilusões de grandeza, poder e superioridade, em demonstrações reiteradas de pouco apreço à realidade.
O governo Federal patrocinou a apoteose em diversas ocasiões, promovendo verdadeiras cerimônias de divinização de seus pretensos feitos gloriosos. Foram inúmeros os "espetáculos" anunciados. O do crescimento foi o mais emblemático de todos. O presidente chegou a sentenciar que "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento da saúde". O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi o ápice do surto de grandeza que elevou uma simples sigla ao patamar de revolução gerencial. A promessa de transformar o País num canteiro de obras do PAC foi transformada na locomotiva do marketing governamental.
A lentidão mesclada pela paralisia produziu canteiros de obras paradas, demonstrando a inoperância administrativa e gerencial do governo e ratificando o PAC como instrumento concebido nas pranchetas de uma campanha de autopromoção.
Na sessão plenária do Senado do último dia 12 de agosto vivenciamos um momento particularmente surreal. Nos embates que nortearam as discussões em torno de uma nova estrutura para as ferrovias brasileiras, nem mesmo os ingredientes mais delirantes de surrealismo seriam capazes de produzir um quadro semelhante. A Casa, debruçada sobre o primeiro item da Ordem do Dia, uma Medida Provisória que amplia a Ferrovia Norte-Sul e prevê a instalação de trens de alta velocidade entre cidades de grande porte, foi levada a chancelar a falsa expectativa de que grandes obras ferroviárias serão realizadas até 2012.
Na cauda da onda delirante em curso, surgiu naquela tarde do enigmático agosto a previsão de colocar nos trilhos um trem bala, de Curitiba a Belo Horizonte, percorrendo uma distância de 1.100 km. Não foi possível me conter diante de promessa tão mirabolante e fantasiosa. Foi assim que fiz referência à famosa peça do dramaturgo Tennessee Williams, "Um bonde chamado desejo", imaginado sua reedição pelo atual governo nos moldes de "Um trem chamado ilusão".
Faço questão de registrar que, enquanto uma MP promete trem bala ligando Curitiba à capital mineira, a ferrovia que liga a capital do Paraná a Paranaguá não suporta mais a carga procedente do oeste do Estado. Envelhecida e superada, não desperta o interesse do governo.
A FERROESTE que idealizamos e viabilizamos durante nossa passagem pelo governo do Paraná estacionou em Cascavel. Não foi além. Enquanto isso os falastrões da hora, os arautos da ilusão traçam cortes e assentam vigas e dormentes imaginários de uma Ferrovia de Paranaguá a Antofogasta no Chile. Sonhos e espasmos megalomaníacos que denotam falta de respeito daqueles que subestimam a inteligência da população.
A VALEC - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. - empresa que assume novos desafios a partir da aprovação do Projeto de Lei de Conversão nº 18, de 2008, proveniente da MP nº 427/08, precisará operar o milagre da "multiplicação dos trilhos", para viabilizar a construção de mais de 5,5 mil kilômetros de ferrovias previstas para uso até o ano de 2012.
Os que eventualmente protestaram quanto ao tom que imprimi da tribuna ao combater o ilusionismo oficial, me desculpem, mas a indignação não pode ser fria. Quem não possui a capacidade de indignação diante do embuste e da fantasia ardilosa, não é digno de representar ninguém. Ademais, neste momento sobra espaço para a indignação.
Senador Alvaro Dias - 2º Vice Presidente do Senado, vice-líder do PSDB

Das coisas que eu gosto - O talento de Nelson de Freitas!

segunda-feira, agosto 18, 2008

A fórmula matemática da corrupção

O economista americano Robert Klitgaard (foto), que estuda o fenômeno há décadas e é considerado um papa do assunto, deu-se ao trabalho de criar uma fórmula para explicar a corrupção: C = M + D - A. Corrupção seria o resultado de "monopólio" (M), mais "critério próprio" (D, do inglês "discretion"), menos "responsabilização pública" (talvez a melhor forma de traduzir "accountability", o A da fórmula). Ou seja, para Klitgaard, o clima que permite o avanço da corrupção é marcado por monopólio em alguma atividade, decisões tomadas com critérios pessoais e resultados que não são alvo de responsabilização pública, não há cobrança sobre o que foi feito.
Fonte: BBC

Imprensa e comunicação nas eleições

Uns dez anos atrás a pesquisadora norte-americana Kathleen Jamieson (foto) - provavelmente a mais importante em matéria de comunicação política - realizou uma mega-pesquisa com base na Universidade da Pensilvânia, onde com um grupo de cinco mil pesquisadores fez o levantamento detalhado de todas as eleições presidenciais nos EUA desde Kennedy.
O resultado da pesquisa deu origem a um livro - "O que você pensa saber sobre eleições e porque você está errado" - , infelizmente não traduzido comercialmente para o português. Este Blog destaca aqui duas conclusões desse enorme e importante trabalho.

A primeira é que a imprensa nas eleições cobre a estratégia eleitoral e não programa, propostas e conteúdo. As matérias sobre programas e propostas surgem como obrigação na imprensa, mas são maçantes e massudas e ninguém as lê ou as memoriza. O que a imprensa cobre mesmo em eleições são as estratégias dos candidatos e as pesquisas. É isso que diagrama, destaca e edita, adequadamente. Os candidatos devem cumprir a agenda da imprensa sobre propostas, disciplinada e burocraticamente. Em temas não polêmicos, qualquer assessor pode responder, tanto faz.

Estratégias de campanha são as ações dos candidatos no sentido de multiplicar sua imagem positiva, e - principalmente - atingir a imagem dos adversários. As declarações que saem como flechas picantes, desconstituintes e as análises das pesquisas (por que desceu, por que subiu) são o que interessa a imprensa e que vai produzir uma edição mais saborosa. Não discuta com as pesquisas. Em dois dias a dor passa.

Outro ponto a destacar é sobre que tipo de comunicação (spot em TV, por exemplo) produz maior impacto. Jamieson chama o comercial propositivo ou de elogios ao candidato de "Defensivo", e diz que esse é o que menos impacta e menos memória produz. O comercial "Negativo" - a critica ao adversário, gera um mal estar inicial a quem vê - mas tem resultado superior ao "defensivo", especialmente num prazo maior. Finalmente destaca o que produz maior impacto e memorabilidade: é o comercial de "Contraste", onde o candidato se compara com seu adversário mostrando o que "fez-faz-faria", um e outro. Os comerciais de Clinton foram especialmente competentes na comunicação por contraste.

quarta-feira, agosto 13, 2008

DEBATES ELEITORAIS! ALGUMAS DICAS!

1. O debate eleitoral na TV e Rádio têm dinâmicas diferentes. Na TV o que vale é a imagem. Voz escandida, tranqüila, sorriso-Reagan (clique aqui e aqui e lembre-se de Reagan o político que melhor usou a TV). Num debate de 1 hora e meia entre 4 candidatos - incluindo o tempo ocupado pelo locutor-coordenador - cada um fala uns 15 minutos e assim mesmo de forma fatiada. Na rádio a audiência mais importante é a cobertura da imprensa no dia seguinte. Portanto fatos novos ou pegadas firmes serão mais importantes se ganharem os jornais na cobertura.

2. Na TV o importante é a imagem nunca ser derrotada, independente de perguntas e respostas. Desmontar a imagem dos outros na telinha (deixá-los nervosos, irritados) e manter a sua é que é o básico. Mesmo se você for atingido, mantenha a imagem como se você estivesse tranqüilo e superior. A câmera só estará em você quando você falar. Você tem tempo para se programar.

3. Em qualquer debate, quem pergunta deve estar na verdade perguntando a si mesmo. O outro é apenas a escada para a pergunta voltar a você. Quem responde tem a vantagem de falar por último. Essa sua última fala deve ser bem pensada, mesmo que saindo do tema, e lançando - com tranqüilidade - ao outro o desconhecimento e despreparo. Nunca podem subir a ofensas, pois dão direito de resposta. Uma afirmação tranqüila e incisiva vale muito mais. Não se esqueça do sorriso-Reagan.

4. Duda Mendonça em seu blog diz assim:

a) O que fica de um debate para o público é muitas vezes, uma frase de efeito, uma formulação clara e feliz, uma jogada desconcertante, uma postura precisa, uma atitude, um gesto. Aliás, o gesto é de fundamental importância. Um debate é primordialmente algo teatral. TV não é para se gritar como em comício. Na TV se conversa, argumenta, se convence. Você está muito próximo do telespectador, talvez a um metro de sua cama.

b) Evitar extrapolar o tempo das respostas, para não ser cortado pelo apresentador. O descontrole do tempo é visto como despreparo por alguns eleitores. Na TV, expressão conta muito, muito mesmo. Já entre com cara de vencedor. O visual conta muito. Peça a seus assessores que façam durante o treino as 10 perguntas que você não gostaria que lhe fizessem de forma alguma.

c) O público espera um candidato sincero, verdadeiro e equilibrado. Quem só ataca perde simpatia. O que mais conta no debate é o carisma, a sinceridade, o preparo e a capacidade de comunicação de cada um.

“A ecologia, outra grande vítima da crise”!

Trechos do artigo do historiador Paul Kennedy (foto) dia 22 de julho

1. Há muitos perdedores no nosso mundo de gasolina e de alimentos caros: os pobres em quase todas as partes, os extratos mais baixos das classes médias, as companhias aéreas, as empresas de importação de alimentos. E, agora, aparece uma nova vítima: o sonho ecologista de conseguir um mundo mais sustentável, equilibrado e eqüitativo.

2. A lista de retrocessos é longa. Enquanto no norte voltam as estufas à lenha, nos trópicos há comunidades que cortam as florestas com mais intensidade do que nunca, e, na Índia, os mais pobres queimam estiercol e um querosene de procedência duvidosa. Mais ainda, o Congresso dos Estados Unidos da América recebe fortes pressões para aumentar as perfurações e as extrações em plataformas marítimas. Muitos Governos querem voltar à energia nuclear e prevêem construir dezenas de novos reatores, que se unirão a numerosas novas fábricas alimentadas pelo carvão.

3. Assim, não tenho a menor dúvida de que os argumentos em favor da produção de alimentos transgênicos têm muito mais possibilidades de ser aceitos hoje do que há 10 anos; se há a necessidade de escolher entre as necessidades de alimentação de 6.500 milhões de pessoas (em 2050, talvez 9.000 milhões) e os temores sobre os alimentos transgênicos, o resultado parece claro.

4. A intensificação das perfurações de petróleo em zonas delicadas, o regresso da energia nuclear, as pressões sobre as florestas tropicais e boreais, a preferência pelo etanol procedente do milho, a possibilidade crescente do recurso à agricultura transgênica e a um maior uso de fertilizantes, e o impulso dado ao protecionismo agrícola do Primeiro Mundo são elementos que suscitam pessimismo entre os amigos da terra. E deveriam suscitar também entre nós.

terça-feira, agosto 12, 2008

Das coisas que eu gosto - The Hollies

Paralelismos entre Argentina e Brasil

Aqui a votação da CPMF deu o primeiro sinal. Lá foi a votação das retenções móveis na última semana.
Em entrevista ao Clarin, o politólogo e historiador argentino Natalio Botana (foto) analisa do ponto de vista da teoria, da história e da dinâmica política argentina, a votação no senado decidida em voto de minerva pelo vice-presidente contra o governo. Abaixo trechos de suas respostas.

1. É muito interessante o que ocorreu, porque toca a questão central da representação parlamentar. A quem responde o parlamentar ? Ao partido? A seu estado? A sua liberdade e consciência? A raiz do Parlamento consiste em que o representante é livre, não tem um mandato imperativo, nem de sua região, nem dos cidadãos. Esse é o mistério da representação política cuja teoria começou a esboçar-se a fins do século 18.

2. Desde o ponto de vista do que é um Parlamento e das funções de um vice-presidente, Cobos atuou com absoluta coerência. Pela primeira vez um vice-presidente serve para decidir nesse momento crucial, como manda a Constituição: desempatar no Senado.

3. Aqui se produz outro cruzamento muito importante entre representação política e mobilização cidadã. Isso que - com muito cuidado - chamo do “poder nas ruas". Não há duvida nenhuma que essa cultura dos piquetes se estendeu por toda a sociedade argentina e atravessa todas as classes sociais. Aqui intervêm também os estilos políticos, que buscam as ruas, a panela, para pressionar as autoridades sem mediações. A Argentina oscila subjetivamente entre uma reprodução hegemônica do Poder Executivo e a reação que frente a isso produz o poder das ruas.

4. Teria sido terrivelmente grave para o país que este conflito tivesse sido resolvido nessa relação cara a cara entre um Poder Executivo hegemônico e o Poder das Ruas.

5. Uma das chaves da política que está em marcha desde 2003, é a combinação de um federalismo político muito ativo no plano eleitoral com um unitarismo fiscal que reforça o poder do Executivo para alocar sanções à oposição e recompensas aos leais, o que exige uma reforma fiscal abrangente.

ALHEAMENTO

A pesquisa do Ibope realizada entre 15 e 17 de julho - vem prejudicada pelos fortes acontecimentos que comoveram a opinião pública carioca naqueles dias, com a tragédia da morte de um menino fuzilado por uma ação desastrada da polícia. Nem o Ibope, nem o Estado de SP, nem a TV Globo tem culpa. Mas esta é uma pesquisa que deve ser desconsiderada. A taxa de não-voto (nulo+branco+não sabe+não respondeu) cresceu para 32% (uma semana antes eram 20%). Todos caíram. Mas quando há um choque de opinião, a distribuição dos que desistiram de escolher candidato é totalmente aleatória e portanto qualquer um poderia ter caído mais ou menos. No caso dos 3 que estão empatados em terceiro lugar há 45 dias, estatisticamente não há diferença em função do aumento do não-voto em 50%.
Mas é mais complexo do que isso. As pesquisas que vão se sucedendo mostram uma enorme volatilidade de quase todos os candidatos. Muitas vezes uma mesma porcentagem não traduz um mesmo perfil de eleitor. Analisando um período de 3 meses, o que menos flutua sob qualquer ponto de vista é o candidato do PSOL, sempre na faixa dos 5%.

Este Blog já chamou a atenção quanto a inexistência de pré-campanha em 2008, seja pelos limites da legislação, seja pelos fatos de grande repercussão que ocorreram no primeiro semestre e desviaram a atenção. A pesquisa do Ibope se comparada a outras e se supõe, as anteriores do próprio Ibope mostrou um aumento de pelo menos 12 pontos no "não-voto".

Em Belo Horizonte, esta mesma pesquisa do Ibope-ESP-TVG dá ao candidato do governador e do prefeito da capital, com toda a divulgação de imprensa, meros 8%. Os líderes têm 17% e 14%. Mas o surpreendente é que em BH, o "não voto" alcançou nessa pesquisa 49% das intenções de voto. Rio e Belo Horizonte são as capitais em que as Taxas de Alheamento, são as maiores do Brasil.

O melhor que fariam os contratantes dessa pesquisa num quadro de clamor público é deixá-la de lado, esperar um pouco, e contratar outra.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Diogo Portugal x Fã do Lula (Na Platéia)

Como dirigir um Hummer no Iraque

Quem é Julio Cobos, um traidor?

No afã de transformar a oposição em sub-legenda de seu grupo, e de eliminar os partidos na Argentina transformando a todos em sub-grupos seus, Nestor Kirchner foi cooptando a todos os políticos, especialmente os do centenário e tradicional Partido União Cívica Radical - de marca histórica democrática e liberal. Cobos (foto) depois de ter sido secretário de obras públicas na Cidade de Mendoza, foi eleito governador da Província de Mendoza.em 2003. Cooptado por Kirchner - passou a fazer parte da ampla frente de adesistas que este montou para eliminar a oposição e o Congresso.
Chamado a integrar a chapa de Cristina Kirchner como vice, Cobos dava curso a anti-política e ao projeto autoritário do presidente Nestor Kirchner. Nas eleições presidenciais deu certo, e Cristina venceu avassaladoramente no primeiro turno. Mas a inorganicidade tem seu preço, pois Cobos aderiu à salada mista de Kirchner, mas sua base e referência políticas, não desapareceram. E sua adesão era a um governo com aprovação de 60% e uma economia crescendo 9% ao ano com inflação de 10%.

Bastou que sua base regional se movimentasse em sentido contrário que a popularidade de Cristina despencasse, que a economia passasse a crescer quase a metade e que a inflação de fato chegasse a 25%, que os laços inorgânicos de adesão se mostrassem frágeis e o nó desatasse, fazendo Cobos retornar a sua posição de origem. Ou seja: não houve traição. Traição havia ocorrido antes, na cooptação. O voto dele como presidente do senado, esse sim foi orgânico.

É bom que por aqui todos aprendam a lição. É só esperar para se ver que a - arghh! - base aliada, é frágil, volátil, inorgânica, e se dissolverá quando a porca se torça e o ciclo se inverta.

COMO O ELEITOR DECIDE O VOTO?

A decisão de voto não é uma simples reação do eleitor à comunicação dos candidatos, apoiada nas prioridades ditadas pelas pesquisas. Muitas vezes temas que as pesquisas apontam como relevantes não estão na equação do eleitor de decisão de voto. Se fosse tão simples, candidatos com o mesmo tempo de TV, com publicitários competentes, abordando os mesmos temas, terminariam empatados.
O primeiro nó do diagrama que o eleitor ultrapassa é separar entre os candidatos aqueles que acha que pode confiar. Os demais podem ter o tempo de TV que tiverem, e os publicitários mais competentes, que estarão - para este eleitor - fora do jogo. Depois o eleitor fecha sua atenção nesses e avalia o que será melhor para ele, seu bairro e sua cidade.

O ponto chave é menos a comunicação direta com os eleitores e mais a comunicação que faz - que será sempre parcial - ter o poder virótico de produzir fluxos de opinião de quem se convenceu, em direção aos demais - entorno de eleitor convencido a entorno de eleitor convencido.

Por isso a imagem, e os compromissos dos candidatos devem ser formulados e comunicados, de maneira a que o eleitor receptivo, o repasse e multiplique. É assim que a opinião publica em torno de uma candidatura se formará. As pesquisas são fundamentais: desde que bem usadas. De outra forma não servem para nada e é melhor ver na TV e ler nos jornais, pois se economiza dinheiro.

A internet pode ser um veiculo de deflagração e impulsão. Mas se mal usada, estressa e produz o movimento ao contrário. É como se o candidato fosse um chato. Portanto sempre é bom consultar quem entende desse veiculo, e ler alguma coisa de marketing de guerrilha e em especial dos pontos com potencial virótico.

Finalmente é bom lembrar que quase não existe eleitor definitivamente decidido. Ou melhor, que esses talvez passem um pouco dos 5%. Sempre haverá tempo para crescer. A eleição - como dizia o Chacrinha: "acaba quando termina".

JOAQUIM NABUCO

Se um politólogo tiver que destacar uma análise política de conjuntura no século 19, que tenha sido substantiva, com uso adequado e coerente dos instrumentos teóricos, certamente citaria "O 18o Brumário" onde Marx analisa a ascensão de Napoleão III na França. Publicou por capítulos em diário de Chicago e depois foi agrupado em livro mais tarde, clássico.
Se pedirmos o mesmo para a América Latina, também no século 19, ter-se-ia dificuldade de destacar um texto. Recentemente foi reeditada a análise de Joaquim Nabuco (foto) ("Balmaceda" Ed. Cosacnaify) sobre o golpe do presidente Balmaceda em 1891 no Chile e a guerra civil que se seguiu nos 9 meses daquele ano. Nabuco - em 1895 - esgrima uma análise profunda e sofisticada, que equivale em qualidade ao 18 Brumário para a América do Sul.

Abaixo, trechos selecionados por este Blog:


a) Política silogística é a arte de construção no vácuo. A base são teses e não fatos; o material, idéias e não homens, a situação, o mundo e não o país, os habitantes, as gerações futuras e não as atuais.

b) A protelação sistemática força o Congresso à inação, transforma-o em uma espécie de teatro de declamação, faz com que ele funcionando se sinta tão paralisado e inútil como se não estivesse reunido.

c) Era um estado maior sem soldados. Mas era um núcleo, pequeno em número, porém compacto, com homens resolutos.

d) Balmaceda ao fechar o Congresso, não tinha outro pensamento senão fabricar, na presidência, à última maneira dos argentinos, um partido seu, pessoal, anônimo, composto do lumpen, e dos repelidos de todos os partidos independentes.

e) A análise tinha esse caráter de superficialidade brilhante, própria do jornalismo político.

f) Há que aperfeiçoar o sistema parlamentar até torná-lo como na Inglaterra, um relógio que marca os minutos da opinião pública, e não somente as horas, como o governo presidencial americano.

g) O direito de defesa é inerente ao funcionamento de todos os poderes do Estado, e inseparável da autonomia de cada um.

h) Não há nada que paralise mais a iniciativa de um político, que a glória.

i) As retiradas são o supremo esforço do general e exigem a máxima solidez da tropa. A um amigo que uma vez o comparava aos grandes generais da história, Moltke (marechal de Bismarck) interrompeu dizendo: - Ainda não comandei uma retirada.

j) O político tem de representar o seu papel até o fim.

l) O político deve ter cuidado com a desordem nas leituras. Nesse caso, o torna-se uma espécie de títere de biblioteca; deixa de pensar por si, de contar consigo. Um espírito assim, posto no governo, a sua marcha política só pode ser um eterno zigue-zague, as suas construções um labirinto, até que de repente se vê sem saída.

m) Durante anos alguns países sofrem os males da anarquia e julgam estar sofrendo os do governo pessoal.

Roberto Lavagna fala da situação da Argentina

BBC - Trechos.

1. Quando saí do governo em dezembro de 2005, o superávit fiscal era de quatro pontos e meio em relação ao PIB, Nos últimos dois anos perderam-se dois pontos e meio. E a última modificação é a de permitir a queda no preço do dólar, hoje em torno de 3,04 e com perspectiva de caída maior. Essa é uma diferença fundamental.

2. O crescimento desacelerou sim. O crescimento real nos primeiros cinco meses deste ano deve estar em 5,5%, no máximo 6%. O governo fala em 8%, mas coloca os preços para baixo e eles estão subindo.

3. Nos últimos doze meses - maio a maio - a inflação efetiva na Argentina foi de 25%. Qual a razão? Gastaram dois pontos e meio do superávit fiscal e esse é um dos principais motivos.

4. O plano econômico durante quatro anos estava baseado em seis pilares: superávit fiscal alto, dólar alto, juros baixos, redução da dívida, consumo como motor do crescimento e dos investimentos e distribuição da renda. O superávit baixou, o dólar caiu, os juros subiram, a dívida voltou a subir, a inflação reduziu o poder aquisitivo da população e por isso, há pior distribuição da renda.