quarta-feira, janeiro 30, 2008

Um álibi para a covardia


Não há precedente – em lugar algum do mundo e em época alguma da história – de que tenha acontecido uma insurreição popular, com combates de rua, em virtude da abertura de um processo de impeachment.

Os tucanos erraram e agora querem dizer que acertaram. Afinaram uma explicação. Estão construindo uma versão. Dizia-se, na época da sua fundação, que o PSDB não era um partido, mas um álibi. Fiel à sua natureza – ou escravo da sua origem – o partido precisa sempre de álibis, depois de 2003 para justificar suas vacilações, sua leniência, sua conivência e seu colaboracionismo com o governo. O erro monumental de não ter interpelado Lula em 2005, quando vieram à tona os detalhes escabrosos do mensalão, também precisava de um álibi. Agora eles já têm. Vejamos.
Na entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo (em 13/01/08), Fernando Henrique declarou:

Entregamos o poder aos sindicalistas, essa é que é a verdade. Do ponto de vista sociológico, uma nova camada da sociedade chegou ao poder e o que acontece hoje no Brasil é fruto dessa ação. Quando se discutiu a possibilidade de impeachment do Lula, não entrei na conversa. Politicamente havia uma situação inequívoca, pois ficou demonstrado que o publicitário dele (Duda Mendonça) recebeu dinheiro no exterior para fazer a campanha a presidente. Qualquer prefeito do interior que tivesse uma acusação dessas nas costas seria cassado! Mas preferi pensar no País. Como enfrentar o impeachment de um presidente operário, um imigrante do Nordeste que pela primeira vez chega à Presidência? Que marcas isso iria deixar no Brasil? Eu me opus inclusive à idéia de deixar o Lula se desgastando lentamente, sangrando. Veja o que aconteceu com Getúlio Vargas. Veja o que aconteceu com Salvador Allende, no Chile. Veja o que se passou na Argentina. Não se quebra desse modo um líder político que vem de baixo, num país com uma desigualdade como a nossa”.


E na entrevista das páginas amarelas da Veja (16/01/08), que chegou às bancas no mesmo domingo, Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, declarou:

Nós acertamos. A abertura de um processo de impeachment traria um desgaste enorme ao país. Um processo de impeachment tem vários pés, é quase uma centopéia. É preciso motivo jurídico, que havia de sobra. Tem de ter crise de governabilidade, que não havia. Tem de ter desorganização de base parlamentar, que não havia. Precisa de clamor das ruas, que não havia. Se mesmo assim levássemos o processo adiante, enfrentando alguém que não queria deixar o cargo, o país seria dividido em dois, com choque de rua, seria pior do que na Venezuela. Não faria bem para a economia brasileira, passaríamos ao mundo a imagem de um país instável, que derruba um presidente a cada treze anos. Acho que o povo brasileiro errou ao reelegê-lo apesar de toda a crise. Mas todos os erros e acertos da população contribuem para a consolidação da democracia. Fazem parte do processo civilizatório de um país errar e acertar”.


As duas argumentações são bastante semelhantes. E igualmente falsas, ou falsificantes da realidade. Em suma, os dois líderes tucanos alegam que, embora existissem razões de sobra para o impeachment, tal não deveria ser feito em razão da grande popularidade de Lula e das conseqüências maléficas que um processo desse tipo traria ao país.

É óbvio que esse argumento, além de falso, é perigoso do ponto de vista da democracia e do Estado de direito. Antes de qualquer coisa eles estão dizendo que uma pessoa com alta popularidade pode fazer o que bem entender, pode cometer qualquer crime.

Mas analisemos os argumentos e as alegações de Fernando Henrique:


1 –
Havia razões jurídicas e políticas (democráticas) para o impeachment (“Politicamente havia uma situação inequívoca, pois ficou demonstrado que o publicitário dele (Duda Mendonça) recebeu dinheiro no exterior para fazer a campanha a presidente. Qualquer prefeito do interior que tivesse uma acusação dessas nas costas seria cassado!”).


Ora, se havia “uma situação inequívoca”, então isso, pelo menos isso, deveria ter sido dito, na ocasião, pela oposição, não? Independentemente do pedido de impeachment, Lula deveria ter sido interpelado formalmente (para o que existem a justiça e as demais instituições). Mas a oposição não fez isso. Botou panos quentes. Fingiu-se de morta. Deixou passar.


2 –
Houve uma decisão de, mesmo assim, não pedir o impeachment (“Mas preferi pensar no País”).


Não caberia à oposição tomar tal decisão. No mínimo ela deveria ter promovido um amplo processo de consulta à opinião pública e de debate na sociedade sobre o assunto. O PSDB fez isso? Não, não fez. Ficou mais preocupado com a “governabilidade” (de Lula) do que com a democracia e com o Estado de direito.


3 –
As razões para não cumprir as leis que regem o Estado democrático de direito decorreram de avaliações políticas ou sociológico-políticas (“Como enfrentar o impeachment de um presidente operário, um imigrante do Nordeste que pela primeira vez chega à Presidência? Que marcas isso iria deixar no Brasil? Eu me opus inclusive à idéia de deixar o Lula se desgastando lentamente, sangrando. Veja o que aconteceu com Getúlio Vargas. Veja o que aconteceu com Salvador Allende, no Chile. Veja o que se passou na Argentina. Não se quebra desse modo um líder político que vem de baixo, num país com uma desigualdade como a nossa”).


Aqui, surpreendentemente, nosso inteligente e super-preparado ex-presidente mistifica as coisas. Há uma sutil alegação, meio indireta, de que retirar Lula pelo processo democrático seria semelhante a dar um golpe contra um presidente eleito (o caso de Allende). O mais grave, porém, é esse vício sociológico de dizer que as condições sociais podem ditar as razões do que se passa na esfera da política. Ora, um líder político que vem de baixo num país de grande desigualdade não pode passar por cima das leis do país, não pode cometer crimes, não pode montar quadrilhas para falsificar o processo democrático. Sua condição de classe e as condições sociais do país não o autorizam a colocar-se fora do império da lei.

Examinemos agora os argumentos de Arthur Virgílio:


1 –
Havia motivo jurídico para o impeachment de Lula (“É preciso motivo jurídico, que havia de sobra”).


Bom, se havia motivo “de sobra” para o impeachment, por que o PSDB não declarou isso na ocasião (mesmo sem pedir o impeachment)?


2 –
A despeito das razões políticas existentes, houve uma decisão de não pedir o impeachment (“Nós acertamos. A abertura de um processo de impeachment traria um desgaste enorme ao país”).


De quem é a avaliação? E a permanência de uma quadrilha organizada no governo também não significou um desgaste enorme para o país?


3 –
Tal decisão foi baseada em uma avaliação da falta de outras condições para desencadear um processo de impeachment (“Tem de ter crise de governabilidade, que não havia. Tem de ter desorganização de base parlamentar, que não havia. Precisa de clamor das ruas, que não havia”).


Não existem tais condicionalidades na Constituição Federal: “crise de governabilidade”, “desorganização da base parlamentar” e “clamor das ruas”. Essas são condições para processos revolucionários, não para uma medida legal, democrática, pacífica, prevista pela Constituição, como é o impeachment. Quer dizer que um presidente poderia roubar, torturar, matar e tudo deveria ficar por isso mesmo se não houvesse crise de governabilidade, desorganização da base parlamentar e clamor das ruas? Por outro lado, como poderia haver desorganização da base parlamentar se a oposição não assumiu o seu papel de confrontar os meliantes com a lei, assediando os membros da base do governo para que tomassem uma posição diante dos fatos gravíssimos que foram revelados? E como poderia haver clamor das ruas se a oposição não foi para as ruas, denunciar, dizer à população o que estava acontecendo, mas preferiu se esconder para deixar a coisa esfriar?


4 –
Tal decisão foi baseada numa avaliação das conseqüências nefastas de um processo de impeachment (“Se mesmo assim levássemos o processo adiante, enfrentando alguém que não queria deixar o cargo, o país seria dividido em dois, com choque de rua, seria pior do que na Venezuela. Não faria bem para a economia brasileira, passaríamos ao mundo a imagem de um país instável, que derruba um presidente a cada treze anos”).


Quem disse que “seria pior que na Venezuela”? Aposto que não. Aposto que o Brasil continuaria a sua vida institucional e econômica normalmente. Passados os primeiros momentos de susto, as pessoas continuariam indo para o trabalho, para os bares e restaurantes, para frente da TV com a família. O argumento do “choque de rua” é falso quando se trata de um processo democrático, legal e legítimo. Não há precedente – em lugar algum do mundo e em época alguma da história – de que tenha acontecido uma insurreição popular, com combates de rua, em virtude da abertura de um processo de impeachment.


Como se vê, os tucanos, emprenhados mais uma vez pelo PT, introjetaram a idéia de que o impeachment seria um golpe (algo semelhante ao que ocorreu com Allende, no Chile, como induziu sutilmente Fernando Henrique).

Eles sabem que não é assim. Sabem que não ocorreria nada disso no Brasil. Estão apenas buscando um álibi. Para não confessar que deixaram de fazer o que devia ser feito por simples covardia mesmo.

ESTADOS UNIDOS E CHINA: MEDO RECÍPROCO!

Trechos do artigo de Joseph S. Nye, catedrático da Universidade de Harvard, autor do livro The Powers To Lead. El País!

1. As pesquisas de opinião indicam que uma terça parte dos norte-americanos acredita que a China "em breve dominará o mundo" e que quase a metade crê que a ascensão da China é "uma ameaça à paz mundial". Por sua vez, muitos chineses têm medo que os Estados Unidos não aceitem sua "ascensão pacífica". Tanto norte-americanos, quanto chineses devem evitar certos temores tão exagerados. A existência de boas relações entre os dois países será um fator chave para a estabilidade mundial neste século.

2. Taiwan pode ser o catalisador de um conflito entre as potências do século XXI. Os chineses suspeitam que os Estados Unidos utilizem Taiwan como porta-aviões. As duas correntes se enfrentarão nas eleições presidenciais de Taiwan em 22 de março. As últimas sondagens indicam que o Prefeito de Taipei, Ma Ying-jeou, do Kuomintang (KMT), está à frente de Frank Hsieh, do Partido Progressista Democrático (PPD), hoje no Governo. Mas alguns observadores temem que o presidente em final de mandato, Chen Shui-bian, do PPD, busque um pretexto para impedir a derrota da corrente favorável à soberania. “Chen propôs um referendo para decidir se Taiwan deve entrar na ONU, um passo que a China considera provocador”. Mas ele responde que é a China "a que está atuando de forma provocadora".

3. Os Estados Unidos estão claramente preocupados. Há pouco, a Secretaria de Estado, Condoleezza Rice, disse numa entrevista coletiva à imprensa que "acreditamos que o referendo para decidir se solicita a entrada na ONU com o nome de 'Taiwan' é uma medida provocadora. Desperta tensões desnecessárias no Estreito de Taiwan e não traz vantagens reais à população tailwanesa no âmbito mundial". Do mesmo modo, Rice repetiu que seu Governo mantém uma política de oposição à "ameaça unilateral de alterar o status quo por parte de qualquer dos dois grupos.

A IMPORTÂNCIA DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS!

1. O calendário eleitoral brasileiro - eleições gerais de dois em dois anos - constrói, como em nenhum outro país, uma rede de dependências, entre as eleições gerais municipais e as gerais, estaduais/federais. Curiosamente, a relação de determinação entre uma e outra, é mais forte desde as eleições municipais em direção às estaduais/federais.

2. Isso ocorre em função da inorganicidade partidária brasileira e do sistema eleitoral de voto proporcional aberto. Essa combinação transforma cada parlamentar - em qualquer nível - em uma espécie de partido unitário. Desta forma, se no exercício do mandato os parlamentares podem ser temáticos, corporativos, especialistas... - na busca do mandato, cada vez menos existem parlamentares que são eleitos pela opinião publica. Na Câmara de Deputados, não são 10 de 513. A busca do voto é capilar, regional, de prestação de serviço, de clientela...

3. Com isso - sendo a força do voto, individual - serão os vereadores e prefeitos eleitos, os que darão lastro aos deputados estaduais e federais, senadores e governadores, nas eleições seguintes. E as eleições municipais tornam-se paradoxais. De um lado são de caráter local. De outro, impulsionam os deputados, senadores e governos, que apóiam.

4. Uma conseqüência é que a base parlamentar do presidente da republica - costurada a golpes de clientela - naturalmente se dissolve durante as eleições municipais. Depois delas restam as mágoas e queixas. E a cicatrização não é imediata. Por isso mesmo, poder-se-ia dizer que o governo federal fica sem base parlamentar, de julho de um ano - no caso 2008 - a julho do ano seguinte - de 2009.

5. Mesmo sem primárias no Brasil, esse processo exige a antecipação da campanha. Paul Lazarsfeld construtor da metodologia de medição de opinião política e eleitoral ainda nos anos 30, dizia que o processo eleitoral tem duas fases: a pré-campanha e a campanha. E comparava com a fotografia de sua época. Na pré-campanha se clica e se impregna a imagem no celulóide. Na campanha, se revela a foto na câmara escura. Sem pré-campanha não há imagem a revelar.

6. As primarias nos EUA resolvem isso organicamente. Mas aqui, a pré-campanha é o período da costura de apoios e alianças, entre políticos individualmente. O voto proporcional aberto, como é aqui, tem como conseqüência uma taxa espantosa de renovação das casas legislativas - em torno de 50%. A conseqüência é a ansiedade e o estresse, neste período. Às vezes isso é visível. Outras vezes ocorre fora dos holofotes da imprensa. Mas inevitavelmente ocorre.

7. Essa dinâmica gera fatos, e a imprensa vai atrás em busca de noticias, e termina se envolvendo precocemente com um processo eleitoral que ainda está numa fase embrionária, individual e anárquica. Esta cobertura acelera o amadurecimento desta fase, porém produzindo uma enorme confusão, pois as costuras mais ou menos individuais, estão ainda sendo tecidas. E uma ação ainda não se articulou horizontalmente com outra, e assim em vez de se ter a cobertura de um ponto político costurado, se dá um nó com a cobertura, prejudicando indistintamente partidos e políticos divergentes. É isso o que começa a ocorrer desde já em janeiro de 2008.

A receita paulista contra a violência - trecho.

Um dado sintetiza a espinha dorsal da política de segurança paulista: nos últimos 12 anos, o Estado inaugurou em média um presídio a cada 43 dias. A receita de prender, prender, prender tem no coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho (foto), ex-secretário Nacional de Segurança Pública, um de seus formuladores. - Há um custo para manter esse pessoal preso, mas é muito menor daquele que seria pago pela sociedade caso estivesse solto - defende o coronel, um dos coordenadores do plano de segurança do primeiro governo do tucano Mário Covas (1995-1998). O número de vagas saltou de 23 mil, em 1995, para 143 mil, em 2007, após a construção de 101 presídios. Mesmo assim, há 11 mil presos em cadeias lotadas.

domingo, janeiro 27, 2008

REFORMA POLÍTICA E REFORMA DE ESTADO!

Trechos do artigo do historiador e politólogo, Natalio Botana para La Nacion. Aliás, perfeitamente adaptável aqui.

1. Contudo, as reformas eleitorais são apenas um ponto sobressalente num campo minado por critérios que subordinam a autoridade do Estado às apetências dos governos. Se os governos, com suas diversas facções, se confundem com o Estado, usando e abusando de instituições destinadas a toda a população, então qualquer reforma eleitoral que se empreenda poderia reproduzir, com sucessivas voltas no parafuso, o mesmo esquema de dominação.

2. Embora esse jogo seja praticado pela rede de caciques, que nos vários distritos procuram fabricar um voto útil de acordo com seus desígnios, é preciso recordar que esses perturbadores da livre vontade cidadã formam parte do Estado em seus três níveis (no nacional, no estadual e no municipal). O Estado se converte, dessa maneira, na maquinaria eleitoral de um partido. Não é um instrumento da sociedade a serviço do bem comum, mas um instrumento do governo a serviço de seu interesse particular.

3. Diversos exemplos históricos ilustram este dilema. Na literatura especializada se registra habitualmente o ano de 1832, quando o Parlamento aprovou na Inglaterra a primeira reforma eleitoral inscrita num longo processo de extensão do voto. Os técnicos costumam destacar as modificações atinentes ao tamanho dos distritos e aos procedimentos adotados para converter os votos em bancadas, mas não sublinham com a mesma ênfase – pelo menos em nosso país – o fato de que, um ano mais tarde, se hajam posto em execução na Inglaterra as primeiras leis para instaurar o serviço civil do Estado, baseado no mérito, o concurso e a avaliação dos candidatos a ocupar cargos na burocracia.

4. Sem o serviço público, não há Estado capaz de merecer esse nome, da mesma forma que, sem boas leis eleitorais, não há representação política que afiance a qualidade da democracia. Como se poderá observar estão aqui em jogo as legitimidades: uma que vem de baixo, por meio das eleições, e outra que vem de cima, mediante as articulações dos corpos profissionais e neutros do Estado.

5. Será preciso insistir nesses argumentos para precaver, uma vez mais, o caráter invertebrado do Estado argentino? Levada até suas últimas conseqüências, esta maneira espúria de agenciar o poder afeta diretamente a base eleitoral da democracia e impede o cumprimento do compromisso fundamental de garantir a transparência das eleições.

6. O Estado emerge como um botim pronto para ser capturado por partidos, sindicatos ou organizações ad hoc. Tivemos entre nós experiências de todo o tipo de aumento, de redução, de emprego do Estado para os fins mais perversos e criminosos. No entanto, em nenhuma delas se logrou constituir um Estado em forma, apto para servir, e não somente para dominar. Talvez estas considerações nos sirvam para entender que nossa meta é uma reforma política que abarque simultaneamente a reforma eleitoral e a reforma do Estado. É hora, portanto, de por as mãos na obra e nada é melhor do que proporcionar este debate ao Congresso da Nação para remontar, entre outros motivos, seu baixo prestígio.

A QUESTÃO RACIAL NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DOS EUA!

A escritora Toni Morrison chamou a Bill Clinton o "primeiro presidente negro da América". Há um mês, as sondagens para a corrida à Presidência americana davam a Hillary uma grande vantagem na intenção de voto dos negros. Porém, pesquisa ABC-Washington Post dá agora a Barack Obama uma vantagem de dois para um e isto parece ter feito a discussão da raça entrar na corrida presidencial. E foi pela mão dos Clinton, como reconhece o editorial do The New York Times.
Na Carolina do Sul, metade dos votos da eleição primária serão negros. Vamos ver se está confirmada a pesquisa acima. A nível nacional são 40 milhões, 14% da população. O Washington Post tem vindo, nos últimos dias, debatendo muito o tema racial. Anteontem, um artigo de Richard Cohen sublinhava o fato de a igreja a que estava ligado Obama (Igreja de Cristo da Trindade Unida de Chicago) ter dado um prêmio a Louis Farrakhan, líder da organização Nação do Islão e acusado de racismo e anti-semitismo.

Obama tem sido muito discreto sobre este tema. Nos seus comícios, é rara a presença de muitos negros junto a ele. "Toda a gente está focada na história da raça, mas não é disso que eu venho falar", disse ele ainda no domingo. Mas Hillary já referiu que "mesmo Martin Luther King precisou de um presidente" para impor as leis de igualdade racial. E Bill disse que Obama "tinha uma história da carochinha", ataques que criaram grandes divisões no Partido Democrático.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

LIVRO IMPERDÍVEL, ESPECIALMENTE PARA POLÍTICOS E JORNALISTAS! OS MELHORES JORNAIS DO MUNDO

De Matías Molina -Editora Globo.

New York Times - página 102. Uns poucos trechos abaixo:

1. (o repórter), Jayson Blair (foto) havia falsificado entrevistas, inventado noticias e viagens, plagiado reportagens, bajulado superiores e mentido sistematicamente. O problema principal não era o chocante comportamento de Blair, mas o ambiente que permitiu isso.

2. Judith Miller, uma das estrelas da reportagem do NYT, foi a principal disseminadora dessas informações, obtidas a partir de obscuras fontes mal identificadas. Durante vários dias o jornal deu destaque extraordinário ao perigo das "armas de destruição em massa". As matérias de Miller estavam alinhadas com a posição da Casa Branca para ir à guerra com o Iraque.

3. John Morton, consultor de empresas de comunicação: - Há uma razão geral pela qual o Times tem uma das margens operacionais mais baixas do setor: porque gasta mais dinheiro em jornalismo.

4. Esta atitude de dar prioridade à informação sobre o dividendo dos acionistas é extremamente rara na maioria das empresas jornalísticas, em qualquer lugar do mundo.

5. Max Frenkel, antigo editor do NYT: Há um visível esforço para lembrar que o jornalismo é uma arte narrativa que une o passado ao futuro, a causa à conseqüência, e que a função do dos jornalistas é transformar a mera informação em conhecimento. Os fatos não informam: os repórteres e editores sim.

1968: UMA GIGANTESCA REVOLUÇÃO LIBERAL!

1. De Gaulle percebeu que muito mais que um movimento revolucionário, que pouco tinha de esquerda, o maio de 1968 era uma gigantesca revolução liberal. Chamou eleições a fins de 1968 e venceu. Mas por uma margem estreita que não lhe dava condições de desdobrar seu estilo vertical de governo. Renunciou em 1969, e retornou a Colombey-les-Deux-Eglises, seu refugio de sempre.

2. A coincidência de 1968, com Vietnam e outros movimentos armados revolucionários inspirados por Guevara, Mao, Giap ou Malcom X, levou muitos analistas desatentos, à confusão. Os próprios estudantes "revolucionários" na França e na Alemanha se pensavam assim. Na verdade encarnavam muito mais o final de um ciclo no que pensavam, e o inicio de outro, no que faziam e diziam. Era o final de um longo ciclo conservador - pela direita ou pela esquerda - e o inicio de um ciclo liberal com intensidade nunca vista antes em nenhum país central.

3. A palavra de ordem - É Proibido, Proibir - era de caráter anarquista, e nesse sentido radicalmente liberal. O que 1968 trouxe foi a exponenciação do individualismo, a ruptura com a tradição, a idéia que tudo começa a cada momento, a reação à guerra fria e aos sistemas de um e outro lado, a negação dos padrões e das aparências, o direito individual de cada um empreender o que quisesse, e como quisesse a cultura hippie-liberal.

4. A década seguinte viu os desdobramentos dessa revolução hiper-liberal nas idéias e costumes, transportar-se para a política e para a economia. A base sócio-político, anterior, sindical ou estudantil, a partir dos valores conservadores - pela esquerda soviética, principalmente - não oferecia condições para reformas liberais intensas. Depois de 1968 a esquerda se estilhaça em tendências de todos os tipos, e a idéia que um grupo de bravos poderia desintegrar os alicerces dos regimes, a partir de focos, idéia de inspiração anarquista, desmonta progressivamente a capacidade de reação das massas na forma anterior.

5. A vanguarda - principalmente juvenil - era liberal e não sabia, alicerçada num individualismo exacerbado. A partir daí abrem-se as condições para a ascensão do liberalismo político e econômico. O Estado questionado e apedrejado em 1968, não podia continuar sendo o mesmo.

6. Desmorona-se o franquismo na Espanha a partir de 76 e ascende a primeira chama liberal com Adolfo Soares, que vai redundar no longo governo liberal do socialista Felipe González a partir de 1982. Mitterrand assume a presidência da França em 1981, e muda como González. Ascende Helmut Kohl na Alemanha em 1982 e aponta na mesma direção de Thatcher. Ascende Ronald Reagan em 1981. E principalmente, ascende Margareth Thatcher na Grã-Bretanha em 1979. Em seguida - 1985 - Gorbachev na URSS.

7. Thatcher e Reagan articulam-se em torno de reformas liberais profundas em relação ao Estado e a economia, impensáveis com a base de resistência social e política, anterior a 1968. A resistência à Thatcher é a dos velhos sindicatos, e assim mesmo setorialmente - mineiros, gráficos... E no final, mudam também os trabalhistas britânicos com a ascensão do liberal Tony Blair em 1994 e a mudança do programa do Labor.

8. Paradoxalmente 1968 abre os espaços ideológicos, filosóficos e políticos às reformas liberais, intensas como nunca.

9. Esse ciclo aberto em 1968 começa a declinar no inicio dos anos 2000. Abre-se um novo ciclo conservador, nos valores, nos vetores e conflitos nacionais, na visão de Estado... O final de ciclo é percebido com clareza na eleição de Sarkozy que afirma de diversas maneiras em vários discursos e entrevistas que 1968 finalmente acabou. Está acabando pela Europa toda. Quarenta anos depois!

COMUNICAÇÃO NÃO É SÓ IMPRENSA! A VOLTA DOS CABELOS BRANCOS!

Trechos da entrevista de Yara Peres ao site do Grupo CDN!

Yara Peres: Os empresários e as grandes corporações ainda entendem a comunicação como um trabalho de imprensa. Eles acham que se estiverem bem com a imprensa o mundo será cor-de-rosa e está tudo resolvido. Eles vão pegar um telefone e dizer: "Olha, tire aquela matéria lá que você fez comigo porque eu não gostei muito". Ainda há um pouco essa noção de que a intervenção ou ação que você tem com a imprensa parece mais com uma intervenção militar. É essa mania de querer controlar. Não entender que você não controla. Você administra e tem que ter musculatura forte, suficiente para poder levar porrada, sim!
Yara Peres: Eu acho que o mercado, em geral, é muito jovem ainda. Eu tenho falado com muitos amigos, e a conversa que eu tenho ouvido nos últimos dois anos é a volta dos cabelos brancos para ajudar o pessoal júnior – pessoas mais jovem. A chegada da web exigiu um grau bastante alto de agilidade, de capacidade para inovação constante etc., que o pessoal jovem tem que ter, por isso são jovens! Ao lado disso, acabou-se abrindo mão de uma coisa importante que é o know how, ou seja, o saber fazer, a experiência. Algumas empresas fazem o seguinte: juntam o cabelo branco que tem experiência, história, enfim, tem o chamado "DNA" do andamento da empresa, com o pessoal jovem que traz agilidade, capacidade de inovação constante, uma visão mais ousada do mercado etc. Acho que essa é a solução ideal.

1968 E A REVOLUÇÃO LIBERAL!

Trecho do artigo - Um ano para recordar 1968 - de Todd Gitlin - professor de jornalismo e sociologia na Universidade de Columbia, publicado no Los Angeles Times e traduzido no Estado de SP!

"Tudo que tivesse aparência de establishment era condenado. Quando todos os padrões internacionais eram rejeitados como elitismo, todo profissionalismo como imposição hierárquica, todas as instituições como prisões, todas as leis como opressão, o pensamento racional foi massacrado. A maneira certa de lembrar 1968 é dar a suas complicações o que elas merecem. O resultado foi uma sublevação contra todos os tipos de establishment, geralmente por razões boas e suficientes, embora os fins tenham sido muitas vezes violados pelos meios. No entanto, é verdade que milhões da geração de então e de gerações posteriores se libertaram para se tornarem no que pudessem e restaurarassem a dignidade do espírito americano. Avaliar a grandiosidade da sublevação é dar crédito ao poder duradouro da Revolução Americana, a seu apelo para as pessoas assumirem o controle das próprias vidas em busca da felicidade e da virtude."

segunda-feira, janeiro 21, 2008

AS ESCOLAS DE COMUNICAÇÃO POLITICA E SARKOZY!

1. A escola norte-americana de comunicação política, exponenciada com Clinton foi traduzida por seu marqueteiro Dick Morris com a expressão: Todo dia é dia de eleição. Ou seja: o presidente deve aparecer todos os dias na TV, encenando os fatos e cenários.

2. A escola francesa cujo nome mais destacado foi Jacques Seguelá - assessor de imagem de Mitterrand (marqueteiro), que o apoiou no milagre midiático em que se transformou o presidente, aconselhava coisa diferente. Dizia que a exposição contínua do presidente produz queimaduras de terceiro grau, e aconselhava que a exposição fosse descontínua - emerge, submerge, emerge, submerge... (Em nome de Deus -J. Seguelá, tradução para o português apenas para estudos internos).

3. Os riscos de Sarkozy são enormes, já que a opinião publica francesa está acostumada com a linha de Seguelá. Os riscos de ele ter "queimaduras de terceiro grau" são muito, muito grandes.

Abaixo trecho do artigo de Raul Justes Lores, para a FSP, publicado no caderno MAIS.

Decifra-me
Especialistas analisam obsessão por holofotes do presidente Nicolas Sarkozy e seu discurso de ruptura com a velha França. Ao ofuscar com facilidade uma geração de líderes europeus que não empolga além de suas fronteiras (Merkel, Brown, Prodi e Zapatero), sua comunicação é acompanhada com lupa por quem estuda marketing político. A estratégia de Sarkozy é ocupar a mídia o tempo inteiro, criando um enorme contraste com a siesta prolongada dos últimos anos do governo Chirac.

O QUE É A INDIFERENÇA?

1. Em 12 de abril de 1999, o intelectual judeu sobrevivente do holocausto nazi e Prêmio Nobel da Paz em 1986, - ELIE WIESEL - fez palestra na Casa Branca para convidados especiais do Presidente Clinton. O tema foi “O que é a Indiferença". Em sua palestre (Los Discursos del Poder - página 233 - Ed. Belacqua) Wiesel diz que..." para a pessoa que é indiferente, seu vizinho não tem nenhuma conseqüência, e, portanto sua vida carece de sentido. Suas preocupações, ou inclusive, suas angustias visíveis não tem qualquer interesse. A indiferença reduz o outro a uma abstração."

2. Diz mais: “A indiferença, além de tudo, é mais perigosa que a raiva e o ódio. Estes podem ocasionalmente serem criativos, quando se escreve um grande poema, uma grande sinfonia... Mas a indiferença nunca é criativa. Da indiferença não se obtém resposta alguma. A indiferença não tem resposta. A indiferença não é um principio, é um final. E, portanto é sempre o amigo do inimigo"

3. No dia 11/01/08 o Presidente Bush disse em Jerusalém que os aliados deveriam ter bombardeado Auschwitz. Foi o momento que encontrou para concordar com as idéias de Elie Wiesel, que condenou duramente a omissão de Roosevelt em não bombardear a linha ferroviária que levava judeus a Auschwitz, por não considerar prioritário.

4. Diz Wiesel a respeito: “... haveriam de ter bombardeado as vias de trem que conduziam a Birkenau, só as vias e pelo menos uma vez. Agora sabemos - e temos aprendido e descoberto - que o Pentágono sabia, e que o Departamento de Estado também o sabia.”

Folha de SP.
Bush diz que EUA deveriam ter bombardeado Auschwitz
Ao visitar ontem em Jerusalém o memorial às vítimas do Holocausto, o presidente George W. Bush comentou com sua secretária de Estado, Condoleezza Rice, que os Estados Unidos deveriam ter bombardeado Auschwitz para evitar que prosseguisse o extermínio naquele campo de concentração nazista, localizado na Polônia. O presidente Franklin Delano Roosevelt e seu sucessor Harry Truman sabiam sobre as câmaras de gás em que morreram de 1,1 milhão a 1,5 milhão de judeus. Mas nenhum campo foi bombardeado, já que os aliados, em plena ofensiva, tinham outros objetivos estratégicos. Um especialista israelense em Holocausto, Tom Segev, disse ter sido a primeira vez que um presidente americano lamentou o não-bombardeio.

domingo, janeiro 20, 2008

SAMBA DO CRIOULO DOIDO! MÚSICA E LETRA DO GOVERNO LULA!

1. O ato que deu à Receita o direito de ter acesso a informações mais detalhadas sobre operações financeiras apoia-se no dispositivo da Lei Complementar nº 105/2001: Art. 5o O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos limites de valor, os critérios segundo os quais as instituições financeiras informarão à administração tributária da União, as operações financeiras efetuadas pelos usuários de seus serviços.

2. Veja que o dispositivo não autoriza, a exemplo do restante da lei, o repasse dessas informações ao TCU ou CGU. A decisão do TCU que determinou ao Secretario da Receita Federal o repasse de informações sigilosas constante do SISCOMEX, foi impugnada pelo Secretario da Receita no STF. O Min. Gilmar Mendes concedeu liminar impedindo, em nome da garantia de sigilo (no caso, sigilo fiscal), o repasse da informação da Receita para o TCU.

3. Quem advogava em favor do Secretario da Receita contra o TCU? O AGU - Advogado Geral da União -!!!!!

sexta-feira, janeiro 18, 2008

POR NÚMERO DE DELEGADOS OBAMA VENCE H. CLINTON EM NEW HAMPSHIRE! - Atualizando o post!

Globo: “Devido ao sistema distrital americano e à escolha de dirigentes partidários como superdelegados, Obama teve mais delegados do que Hilary no Estado”.
Número de delegados (que é o que importa): Obama 12 delegados. H. Clinton 11 delegados. J. Edwards 4 delegados. Em IOWA Obama teve 16 delegados, H. Clinton 15 e J. Edwards 14.
Entre os Republicanos em NH: McCain 7 delegados, M. Romney 4 e M. Huckabee 1. Em IOWA, Huckabee 17, Romney 12, McCain 3 e F. Thompson 3. Em Wyoming: M. Romney 8, F. Thompson 3 e D. Hunter 1.
Total: Obama 28 delegados, H. Clinton 26 e Edwards 18. Republicanos: McCain 10, Romney 24, Huckabee 18.

ELEIÇÕES PRIMÁRIAS NOS EUA! OS SUPERDELEGADOS!
Os superdelegados - que são dirigentes partidários - podem votar em quem quiserem e tendem a votar em quem esteja na frente, favorito. Pela última pesquisa CNN, dos 796 superdelegados democratas, H. Clinton teria recebido o apoio de 159, Obama 53, Edwards 34.

PODERES DE OBSTRUÇÃO! SOBERANIAS NEGATIVAS!

Trechos do artigo - Uma Democracia Exigente - do politólogo Natalio Botana, em La Nacion.

1. Após as eleições, imediatamente surgem queixas e protestos, como se o regime representativo dos partidos políticos estivesse em suspensão permanente, cercado por esse intrincado conjunto de atores. Com relação a esse fenômeno, Pierre Rosanvallon comprova, num livro indispensável (A contrademocracia. A política na era da desconfiança, Buenos Aires, Manantial, 2007), o aparecimento de diversos “poderes de obstrução" e de "soberanias negativas" que foram se formando à sombra da democracia representativa.

2. Conforme afirma, novamente Rosanvallon: "O governo democrático já não mais se define apenas por um procedimento de autorização e legitimização. Está cada vez mais estruturado por uma permanente confrontação com diferentes categorias de veto provenientes de grupos sociais, de forças políticas ou econômicas." Desde logo, a questão maior que se apresenta à teoria ou à ação política, é saber se o próprio regime representativo será capaz de resistir e trabalhar com coerência.

3. Será que a política e os partidos, efetivamente têm o que fazer para dar uma resposta e desenhar o perfil de uma civitas humana que esteja à altura do novo século? Obviamente, diante desse panorama, esses dirigentes podem abrir um diálogo com a sociedade civil, escutar suas queixas e propostas, para lançar as bases de um tipo de democracia de caráter participativo e deliberativo.

4. Seria difícil negar os atrativos desse programa, porém é preciso recordar que a participação e a deliberação sem instituições que lhes dêem guarida e lhes abram um caminho construtivo podem acabar se convertendo em forças que giram de novo em torno de um conceito negativo da política. Essa contradição entre a definição normativa de uma ordem e uma praxis que sistematicamente concentra suas decisões no Poder Executivo nacional, gerou um estado de fragilidade estrutural nas províncias (estados) e nos municípios com relação à sua disponibilidade de recursos fiscais.

5. Não há porque estranhar se, diante da face mais irada dos "poderes de obstrução", muitos governadores e prefeitos façam às vezes de protagonistas diminuídos, com limitada capacidade de reação, ou então de autoridades mendicantes diante de um poder central que decide mediante seu próprio arbítrio, a quem dar e a quem não dar. Quando os grupos de veto se manifestam, as populações imersas no medo que permeia a insegurança ficarão indignadas pela falta de justiça, e os primeiros que recebem as bofetadas, dando ou não a cara para bater, são os governantes mais próximos a esses cenários de descontentamento.

6. Portanto, é hora de ir ao essencial e enfrentar os debates e reformas que o país espera. Se não o fizermos, sobreviveremos no dia a dia, de escândalo em escândalo, sem nenhum apetite para o futuro.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Fernando Collor de Mello, o mais liberal de todos os Presidentes brasileiros

À época em que Collor elegeu-se Presidente da República, eu já estava habilitado juridicamente (e intelectualmente) para votar. Se este Senhor fosse candidato hoje, confesso que não descartaria a hipótese de dar meu voto a ele, em que pesem os escândalos de corrupção no qual se envolveu, os quais acarretaram o seu impeachment. Não nos esqueçamos, antes de mais nada, de que Collor renunciou pouco antes da votação do impeachment pelo Senado Federal, mas votação houve mesmo assim, como que para dar mais alarde à situação e fazer parecer que, no Brasil, as intituições são sérias e funcionam. Collor não cometeu crime muito diferente dos que cometeram as administrações petistas estaduais (no Rio Grande do Sul), municipais (em Ribeirão Preto) e Federal (Waldomiro Diniz e Zé Dirceu). Se as instituições por aqui fossem de fato sérias, estes criminosos seriam punidos com a perda de seus cargos. Mas como são esquerdistas e têm ao seu favor tudo e todos, não precisam se preocupar. A própria imprensa dá cabo de abafar suas falcatruas.
As medidas governamentais tomadas por Fernando Collor de Mello mostraram-se as menos estatizantes de toda a história política nacional. Não só intensificou o processo de abertura econômica, como também conduzia-nos numa gradual queda da carga tributária (bem ao contrário do outro Fernando, o Henrique, que elevou-a aos céus), em concomitância com uma real diminuição do tamanho do Estado. Estas palavras não constituem retórica vazia: representam verdade passível de comprovação empírica, e qualquer sujeito que se clame "liberal" deveria, por estas razões, ter para com o governo Collor certa reverência.
Exemplo de clareza meridiana a comprovar o real liberalismo que emergia no início da década de noventa é uma lei sancionada pelo "caçador de marajás", que instituiu o PROGRAMA NACIONAL DE DESESTATIZAÇÃO. Devem-se a ela todas as privatizações que se seguiram, o que inclui a do setor de Telecomunicações (a antiga Telessauro). Trago aos leitores seus primeiros artigos:

LEI N° 8.031, DE 12 DE ABRIL DE 1990

Cria o Programa Nacional de Desestatização, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1° É instituído o Programa Nacional de Desestatização, com os seguintes objetivos fundamentais:

I - reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público;

II - contribuir para a redução da dívida pública, concorrendo para o saneamento das finanças do setor público;

III - permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada;

IV - contribuir para modernização do parque industrial do País, ampliando sua competitividade e reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia;

V - permitir que a administração pública concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das prioridades nacionais;

VI - contribuir para o fortalecimento do mercado de capitais, através do acréscimo da oferta de valores mobiliários e da democratização da propriedade do capital das empresas que integrarem o Programa.

Art. 2° Poderão ser privatizadas, nos termos desta lei, as empresas:

I - controladas, direta ou indiretamente, pela União e instituídas por lei ou ato do Poder Executivo; ou
II - criadas pelo setor privado e que, por qualquer motivo, passaram ao controle, direto ou indireto, da União.

§ 1° Considera-se privatização a alienação, pela União, de direitos que lhe assegurem, diretamente ou através de outras controladas, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da sociedade.

§ 2° Aplicam-se os dispositivos desta lei, no que couber, à alienação das participações minoritárias diretas e indiretas da União, no capital social de quaisquer outras empresas.

[...]

Imaginem a quantidade de interesses contra os quais o signatário desta Lei teve de lutar para vê-la aprovada. Posicionaram-se contrário a um tal programa não apenas as corjas de mentalidade estatizante e os inúmeros beneficiários de cabides de emprego das Estatais, mas boa parte do empresariado nacional cujos empreendimentos já estavam constituídos. Isto por que as grandes empresas capitalistas são notadamente anti-capitalistas: não querem saber de concorrência. Temem-na como o diabo teme a cruz. Tem-se, com isto, dado o panomara nada favorável no qual Collor fez aprovar a Lei de Desestatização. Só tendo o saco preto mesmo.
Acho engraçado quando a intelectualidade verde e amarela e professores de todos os graus referem-se a Adam Smith como um pensador cuja teoria voltava-se exclusivamente aos empresários. Não há nada mais falso, nada mais mentiroso e infame do que esta assertiva. Smith foi talvez o primeiro intelectual a preocupar-se com a população de maneira geral, com os consumidores, à medida que combatia as Grandes Corporações mercantilistas que se fechavam à concorrência e instituiam privilégios aos negociantes já estabelecidos no mercado. Ao propugnar pela livre concorrência, pensou antes no consumidor, que no livre mercado tem a possibilidade de adquirir maior variedade de produtos a preços mais baixos, pois que a competição gera precisamente estes resultados: força os empreendedores a melhorarem seus produtos e a abaixarem seus preços, sob pena de perderem clientela para um outro que esteja agradando aos compradores. Ressalte-se que agradar a um consumidor significa colocar a sua disposição produtos de alta qualidade a preços baixos. Aquele que, no livre mercado, não se orientar pela lógica da eficiência, perde a briga e sucumbe. Quem ganha é sempre e sempre o consumidor, que nele pode exercer livremente sua soberania.
Com Collor, o Brasil passou a ser menos mercantilista e um pouco mais capitalista; chegou ao menos no estágio do proto-capitalismo, o que já nos representou um avanço. Entretanto, por um outro lado, o Presidente "collorido" confiscou-nos as poupanças, e a equipe técnica montada por ele colecionava incompetentes (bastante lembrar da imbecil da Zélia Cardoso de Mello). Não obstante, o cerne de seu plano de governo foi o mais liberalizante e arrojado da história. A esquerda nacional (e o empresariado temeroso pela abertura econômica), ciente do explícito viés anti-estatizante que o orientava, não economizou esforços para arrancar-lhe o poder em seu primeiro deslize. Por todo o exposto, repito: quem quer que seja que, em terras pátrias, considere-se um liberal, deve ter um mínimo de consideração para com um líder político que nos forneceu o rascunho do mapa do caminho rumo ao capitalismo liberal.

SUPERE-SE

terça-feira, janeiro 15, 2008

GRANDE PARTE DOS EMPENHOS FEITOS PELO GOVERNO LULA NO FINAL DE 2007 SÃO ILEGAIS!

1. As despesas empenhadas e não liquidadas ou não pagas vão para restos a pagar e abrem orçamento do ano seguinte.

2. Mas para isso é necessário que no mínimo as despesas relativas aos empenhos estejam em execução, ou mesmo no limite, estejam em licitação com o edital publicado.

3. Quando um governo emite empenhos de despesas em final de exercício, especialmente investimentos, que não estão em andamento e sequer estão em licitação, comete uma grave ilegalidade, pois está abrindo um orçamento paralelo sem qualquer conexão com o orçamento em execução e muito menos com o orçamento do ano seguinte que sequer foi votado.

4. Foi isso o que o governo Lula fez: empenhou despesas sem conexão com execução ou mesmo licitação publicada. Isso cria um orçamento sem conexão à lei. É crime de responsabilidade dos mais graves na administração pública, passível mesmo de impedimento do presidente.

5. Cabe a oposição e mesmo ao MP analisar os empenhos feitos na segunda quinzena de dezembro e destacar deles aqueles sem referência a execução ou licitação, e questionar no STF sua validade e paralelamente preparar a acusação ao presidente por crime de responsabilidade.

6. Alguns destes empenhos são fáceis de verificar como investimentos do PAC em nível de estados e municípios que estes sequer iniciaram o processo licitatório. São casos evidentes por si mesmos e que devem ser levados ao STF e a ação contra o presidente.

SÍNDROME DE COPENHAGUE!

Trecho de artigo de Moisés Naím - Editor Chefe da revista Foreign Policy sobre as FARC e a reação em países europeus! El País!

Deste modo, agora para a síndrome de Estocolmo nós podemos somar a síndrome de Copenhague: o processo estranho por meio de qual a ideologia e a política se mistura com a ingenuidade e a ignorância para justificar os crimes que ferem a humanidade, contanto eles não acontecem no país dos afetados pela síndrome. É fácil imaginar que os juízes civilizados de Copenhague chegariam a uma opinião muito diferente se as vítimas do FARC fossem dinamarquêses em vez de colombianos. Basta haveriguar com honestidade, para descobrir que as motivações ideológicas que em algum momento teve o FARC já não mais existem. Hoje em dia a retórica que iguala o FARC com os movimentos de liberação nacional só é boa para esconder o fato que elas se tornaram uma força mercenária e cruel do tráfico de drogas.

Das coisas que eu gosto - Cena da Bicicleta do Filme Butch Cassidy & Sundance Kid

segunda-feira, janeiro 14, 2008

ÚLTIMOS EXCERTOS DO QUE HOUVE EM IOWA

1. A análise feita por diversos especialistas diz que Obama ganhou as primárias em Iowa pois sua campanha voltada para a mudança foi melhor recebida do que as que valorizavam a experiência, como a de Clinton. Metade dos eleitores democratas que compareceram às primárias disse procurar um candidato que possa trazer mudanças ao país. Obama mostrou que a questão racial pode não ser um entrave, visto que Iowa tem a população 95% branca.

2. Hilary Clinton dava como certa sua vitória entre as mulheres, mas perdeu por 35 a 30. Mas a maior vitória de Obama foi entre os menores de 30 anos, onde venceu com 57%. Mesmo assim, a candidatura de Clinton permanece forte, visto que Iowa tinha uma das primárias que ela temia, sempre apresentando resistência à sua candidatura e o fato de que na próxima grande primária, de New Hampshire, ela possui amplo apoio, apesar da grande vantagem sobre Obama ter evaporado.

3. Já a vitória de Huckabee foi creditada à sua campanha focada nos valores que os Republicanos mais prezam, como controle de armas, oposição ferrenha ao casamento gay e aborto, e principalmente voltada aos eleitores cristãos. A vitória de Huckabee foi uma grande derrota para o favorito Mitt Romney que havia montado uma excelente campanha, fortemente financiada, e concebida anos atrás, para ganhar as primeiras primárias ao gastar mais e se organizar melhor. Para New Hampshire Huckabee tem poucas chances, pois é um estado onde historicamente se dá mais ênfase para redução de impostos e diminuição do tamanho do Estado do que para políticas sociais, um dos pontos de apoio do populista Huckabee.

4. Algo que chamou a atenção foi que as campanhas negativas não pareceram funcionar. Romney gastou muito em campanhas negativas contra Huckabee, mostrando que ele apoiou um projeto que daria bolsas em universidades para imigrantes ilegais e o número recorde de perdões a criminosos, incluindo 11 assassinos condenados. Já Huckabee usou a interessante estratégia de dizer que não iria levar ao ar uma propaganda negativa contra Romney, e a mostrou apenas a jornalistas numa coletiva de imprensa.

domingo, janeiro 13, 2008

Das coisas que eu gosto - RUFUS DOES JUDY

Rufus, no caso, é RUFUS WAINWRIGHT, filho de LOUDON WAINWRIGHT. Gay assumido, cantor talentoso e compositor elogiadíssimo pela qualidade, criatividade, pela mistura que faz de elementos de música pop, clássica, com um clima meio teatral, meio cabaret. Judy é JUDY GARLAND, cantora e atriz, interpretou DOROTY no filme O MÁGICO DE OZ, e foi a intérprete da versão que ficou famosa do clássico "SOMEWHERE OVER THE RAINBOW". Mãe de LISA MINELLI, tornou-se ícone da cultura gay americana do pós guerra.
O álbum acaba de ser lançado e é o registro de uma performance ao vivo de RUFUS, acompanhado de orquestra de 36 músicos, recriando faixa a faixa o célebre álbum ao vivo de JUDY de 1961 no mesmo Carnegie Hall. O repertório é de clássicas do Songbook Americando.
Um álbum de jazz orquestrado incrível, arranjos lindos, cordas, sopros e piano, temperado com a personalidade bem humorada de Rufus e seu talento preciso. Sem exibicionismo vocal, ele refaz, nota a nota as canções gravadas por Judy.
Chamo a atenção para "STORMY WEATHER", interpretada por MARTHA WAINWRIGHT (irmã do RUFUS) e a ótima "AFTER YOU´VE GONE". Outra ótima é a "PUTTIN´ON THE RITZ". As músicas todas são muito boas...
Habilitei os links para baixar o álbum original de Judy também, prá quem quiser conferir!
RUFUS PARTE 1/ PARTE 2
JUDY PARTE 1/ PARTE 2

DISC 1
1. Overture: The Trolley Song/Over The Rainbow/The Main That Got Away
2. When You're Smiling (The Whole World Smiles With You)
3. Medley: Almost Like Being In Love/This Can't Be Love
4. Do It Again
5. You Go To My Head
6. Alone Together
7. Who Cares? (So Long As You Care For Me)
8. Puttin On The Ritz
9. How Long Has This Been Going On
10. Just You, Just Me
11. The Man That Got Away
12. San Francisco

DISC 2
1. That's Entertainment
2. I Can't Give You Anything But Love
3. Come Rain Or Come Shine
4. You're Nearer
5. A Foggy Day
6. If Love Were All
7. Zing! Went The Strings Of My Heart
8. Stormy Weather
9. Medley: You Made Me Love You/For Me And My Gal/The Trolley Song
10. Rock A Bye Your Baby With A Dixie Melody
11. Over The Rainbow
12. Swanee
13. After You're Gone
14. Chicago

PS: Infelizmente não deu para upar os dois CDs separados. Então, você tem que baixar as duas partes para extrair o arquivo. Quando o site RapidShare abrir, escolha a opção free.

sábado, janeiro 12, 2008

MULTILATERALISMO NUCLEAR!

Encruzilhada de crise

-Trecho do artigo do historiador e politólogo argentino, Natalio Botana, para La Nacion.

1. Não termina bem o ano num mundo onde se agiganta a luta pelo predomínio. Quebrou-se o antigo mapa do conflito entre Estados soberanos e o que, na verdade, atualmente se nota é um cenário no qual coexiste a violência internacional para limitar ou conquistar o poder interno nas nações, juntamente com a dramática circunstância do multilateralismo nuclear.

2. Estes impulsos assassinos, ancorados no ressentimento e na vontade de adquirir poder à custa do sacrifício da vida humana, decorrem da “patologia da religião”, que, como advertia em 2003 Joseph Ratzinger (atualmente o Papa Bento XVI), “é a enfermidade mais perigosa da mente humana”.

3. Nos dias atuais, a anarquia ronda o armamento nuclear e até os especialistas mais qualificados não sabem bem quais as correntes que lutam no exército paquistanês, do qual Musharraf é originário. Os militares são os guardiões do poder nuclear, mas quem controla os guardiões neste descalabro de instituições estatais?

4. Num contexto como este, as incógnitas de 2008 nos pressionam. Teremos, portanto, que transitar em terreno minado, o que requer, de nossa parte, não se deixar deslumbrar pelo coro de aventureiros internacionais.

JÁ TORNOU UMA FEBRE! PARA ONDE VÃO AS TAMPAS DE BUEIROS?

Trecho do livro A China Sacode o Mundo Ed. Globo – James Kynge (foto) – Jornalista Chefe da Sucursal do Financial Times na China. Então, de modo bastante súbito - pelo menos assim pareceu - a China se tornou uma questão de importância internacional diária. É difícil precisar quando, exatamente, essa transição ocorreu. Entretanto, pelo menos na minha imaginação, talvez tenha ocorrido um ponto crítico. E ele ocorreu durante várias semanas a partir de fevereiro de 2004, quando, as tampas de bueiros começaram a desaparecer de estradas e pavimentos no mundo todo. Como a demanda chinesa levou o preço da sucata a níveis recordes, em quase todos os lugares do mundo os ladrões tiveram a mesma idéia. Assim que escurecia, tiravam as tampas de ferro e vendiam-nas a comerciantes locais, que as cortavam e embarcavam por navios para China.(...) Mais de 150 tampas desapareceram durante um mês em Chicago. "O grande roubo de drenos" na Escócia viu mais uma centena desaparecer em poucos dias. Em Montreal, Gloucester e Kuala Lumpur, os pedestres desavisados caíam nos buracos.(...)

quarta-feira, janeiro 09, 2008

DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E DIRETA, NA ERA ELETRÔNICA!

1. Por décadas e décadas debateu-se conflituosamente na esfera política, seja entre políticos como entre acadêmicos, a convergência ou divergência entre democracia representativa e direta. Setores de esquerda, fora do poder e sem lastro eleitoral, negavam à representação parlamentar legitimidade, alegando poder econômico, compra de votos, demagogia, etc... Como alternativa propunham instancias de democracia direta, através de associações de moradores, sindicatos, conselhos diversos.

2. Por outro lado, seus críticos, reforçavam a democracia representativa, questionando a representatividade dessas associações e conselhos, que seriam na verdade manipulados por profissionais de partidos, que não representavam as bases e que aqueles diminutos grupos ativos que se reuniam apenas representavam-se a si mesmos.

3. Em outro corte, os partidos de quadros, sublinham a democracia representativa, e os partidos de militantes, especialmente os profissionalizados, reforçam a democracia direta, especialmente quando não tem votos.

4. Com a comunicação eletrônica, este quadro muda radicalmente. Os políticos têm a possibilidade de serem alcançados a qualquer momento por qualquer pessoa, seja através de mensagens individuais por e-mail, por web direto, em grupos, em redes, em sites, etc... Podem ter o contato individual ou coletivo com o corte que desejarem.

5. Essa é uma pratica de democracia direta cuja representatividade será tanto maior quanto maior interesse o eleitor tiver em contatar com o político, interagir e dialogar com ele. O político pode ir desenhando redes - gerais e parciais - e submeter a elas idéias e interagir com as mesmas - desenhar grupos via Orkut, dialogar em tempo real via MSN, etc....

6. Com isso a dicotomia democracia representativa e direta, desaparece e fica a disposição dos partidos de qualquer tipo, usar estes instrumentos de democracia direta explorando a representatividade que o voto lhe deu tendo seu próprio campo de articulação direta.

7. Desta forma os intermediários profissionais que levam e trazem demandas e reclamações da base social e mistificam seu poder manipulando as diretorias que nomearam, que iludem a mídia com nomes e sobrenomes de associações e conselhos, perderam os instrumentos de falsa representação que detinham.

8. A partir de agora termina a dicotomia entre democracia representativa e direta. Passam a ser um todo integrado e único e a disposição daqueles que tendo voto, passam a ter contatos diretos e a qualquer momento com a população - individual e coletivamente - setorial ou regionalmente, corporativa ou horizontalmente.