terça-feira, dezembro 11, 2007

PESQUISAS, AVALIAÇÃO E SUCESSÃO DE LULA!

1. O Instituto IPSOS publicou no ESP, pesquisa de opinião nacional com mil entrevistas. Pesquisas exigem sempre cuidado na análise. O eleitor médio não tem o nível de atenção, racionalidade e informação dos analistas ou dos interessados em política. Hoje, menos ainda pelos escândalos divulgados. Os estudos de maior profundidade que este Blog tem tido acesso mostram que o quadro não é tão linear como a razão jornalística exige.

2. O bolsa-família é o programa do governo Lula que mais consenso produz, cruzando as respostas por quaisquer perfis do eleitor. A resposta à pergunta ("o que Lula fez de bom no governo?") que dá ao bolsa-família 43%, a estabilidade econômica 20%, a ajuda aos pobres (que poderia ser somada ao bolsa-família), 10%... mostra exatamente isso. Mas isso não quer dizer que seja a principal razão de voto.

3. Estudos econométricos de causalidade mostram que a razão hipotética de se votar em Lula hoje é a questão econômica, estabilidade e crescimento. Por isso não há qualquer contradição do eleitor quando responde sobre o presidente responsável pela estabilidade econômica quando Lula tem 67% e FHC 7%. Essa resposta apenas ratifica o que as razões de causalidade demonstram. O ponto não é a bolsa-família, mas a economia. A boa economia de FHC terminou há 10 anos atrás, na crise de setembro de 1997.

4. Este Blog publicou uns meses atrás (vejam no arquivo), resumo de um artigo do historiador e politólogo argentino, Natalio Botana, onde mostrava o paradoxal na América Latina entre economia e democracia. Ou seja, aqui, quanto melhor a economia mais autoritários ficam os governos. É o que vemos hoje pela AL afora. Com Lula e PT é exatamente assim: o executivo manda e o legislativo se submete. O caso Renan é exemplo disso. E é isso o que o executivo quer, aqui e alhures. Um quadro econômico inverso, certamente produziria não só a queda da avaliação de Lula, como a fragilização do executivo em relação ao legislativo e aos políticos.

5. Por outro lado, a fragilização do legislativo leva o eleitor a estar cada vez mais desligado da representação política dos partidos e mais ligado aos personagens. Por isso (e por sorte para eles) não existe PT, mas Lula. O problema é que o desenho do personagem Lula, não é clonável entre os políticos destacados hoje. Nenhum deles do PT, ou fora dele é da família Lula. Ao contrário, Serra, Aécio e Alckmin, são da família FHC.

6. Desta forma a eleição presidencial de 2010, parte de duas situações: a) não há personagem sucessor; b) depende da dinâmica econômica daqui para frente. Quando surge no horizonte um crescimento de 5%, o governo vai ao orgasmo, pois sabe que é esse seu pilar de sustentação e de transferência de votos. Mas quando a crise "hipotecária" sinaliza nuvens carregadas para a economia e os índices de preços pululam, todo este quadro se desfaz.

7. E se for assim, teremos uma eleição lotérica de partida na medida que a memória econômica negativa passará a ser de FHC e Lula e não só de FHC - segundo governo. Esta característica estimulará o lançamento de muitas candidaturas, e um quadro eleitoral imprevisível, onde os perdedores no primeiro turno poderão ser decisivos no segundo.

8. Desta forma, a pesquisa que se tem que ficar atento é a projeção de cenários para o futuro. É mais trabalhoso e sofisticado do que pesquisas sobre o que se pensa hoje. Os bons economistas sem partidos sabem como fazer. E a metodologia - que alguns chamam de quali-quantis - está a disposição de todos os interessados de forma a combinar projeção de cenários com os fatores de peso.

*A charge é de Tiago Recchia do jornal Gazeta do Povo-PR.

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